A desocupação da Favela do Moinho, na região central de São Paulo, trouxe grandes desafios para 181 famílias que já deixaram a comunidade em busca de novas moradias. Desde o final de abril, a realocação começou a modificar a rotina desses moradores, que na última atualização apenas quatro famílias conseguiram se mudar para apartamentos financiados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). A maioria, em vez disso, optou por um auxílio-aluguel de R$ 800 até encontrarem uma moradia definitiva.
O terreno em que a favela se localiza pertence à União, e o estado de São Paulo solicitou a cessão da área, que deve ser transformada em parque. No entanto, o governo federal alertou que o processo de transferência está condicionado à garantia do direito à moradia das famílias. Além disso, o uso da força policial na desocupação motivou o governo federal a suspender o processo, gerando tensão na região, que amanheceu com a presença da tropa de choque da PM.
Entre os moradores realocados está Francisca Lima, de 42 anos, que, após cinco anos na favela, conta que se cadastrou na CDHU há mais de uma década. Embora tenha se mudado para um apartamento na Zona Leste, a nova vida não está isenta de preocupações. A falta de uma rede de apoio nas novas condições de vida gera apreensão, embora ela se mostre otimista e já tenha matriculado suas filhas na escola.
Por outro lado, Ângelo Batista, de 27 anos, que também saiu da Favela do Moinho, relata que está aliviado, já que na sua antiga casa enfrentou incêndios frequentes e infestação de escorpiões. Ele destaca a quimica da nova moradia como muito superior à da favela, embora os desafios e os sentimentos de pertencimento à comunidade ainda persistam.
As condições de vida dentro da favela complicam a passagem para novos apartamentos. A resistência à desocupação surge desse apego emocional, uma vez que muitos moradores afirmam ter investido tempo e dinheiro na construção de suas casas, apesar de a área ser considerada da União. Ao lado de Francisca e Ângelo, outros moradores também se deparam com dilemas de renda, com os imóveis da CDHU apresentando restrições financeiras pesadas ao comprometer até 20% do rendimento mensal por até 30 anos.
Protestos têm sido frequentes desde o início do processo de remoção. A tensão entre os moradores e a polícia aumentou nos últimos dias, especialmente com a demolição de casas desocupadas iniciada pelo governo estadual, o que gerou reações adversas e bloqueios de linhas de trem na região.
Além dos desafios enfrentados na mudança, uma investigação das autoridades apontou que a Favela do Moinho era um ponto estratégico do crime organizado, abrigando atividades do Primeiro Comando da Capital (PCC). O local servia como um centro de inteligência utilizado para monitorar as operações policiais e controlar a comunidade.