Perfis anônimos com 42 milhões de seguidores no Instagram estão chamando a atenção por suas promessas de saúde e emagrecimento rápido. Contudo, por trás desses vídeos curtos, o que se revela é uma estratégia lucrativa que explora a desinformação e promove golpes financeiros, conforme identificado pelo Estadão Verifica.
Essas chamadas “contas dark” operam sem a presença visível de criadores de conteúdo, seguindo tutoriais que prometem gerar até R$ 10 mil por mês. Os perfis, que adotam nomes de mulheres com termos como "dicas saudáveis", compartilham postagens geradas por inteligência artificial ou baixadas da internet, criando uma rede de informação enganosa.
Estudos revelam que muitas dessas contas têm nomes semelhantes e utilizam fotos geradas por inteligência artificial. O foco no tema saúde e os vídeos sensacionalistas servem como um chamariz, onde especialistas apontam indícios de uma ação coordenada que visa monetizar a audiência com produtos não entregues ou fraudes de dados pessoais.
A pesquisa identificou 69 perfis cujos seguidores variam de 200 mil a 3,8 milhões, somando uma comunidade total de mais de 42 milhões de usuários. As contas não apresentam informações sobre seus administradores e compartilham conteúdos sem fontes confiáveis, além de reproduzir vídeos de outras fontes sem atribuição.
O padrão de postagem é alarmante. A cada três publicações, uma é de promoção de produtos que geralmente custam entre R$ 10 e R$ 50. Os nomes das contas costumam incluir artifícios genéricos, com biografias promovendo contatos por WhatsApp para acessar receitas ou ofertas, sinais comuns de operações fraudulentas.
“Quando observamos que múltiplos perfis replicam exatamente os mesmos conteúdos, isso foge do comportamento comum dos usuários”, analisa Ergon Cugler, pesquisador da FGV.
As contas, que mudam frequentemente de nome, dificultam o rastreamento, e muitas apresentam características idênticas em relação a números de WhatsApp e horários de postagens. Cugler destaca que a repetição de conteúdos em múltiplas contas demonstra uma coordenação para monetizar visualizações.
Além dos vídeos que geram visualizações, as páginas também obtêm lucros com vendas de produtos, apontando para uma variedade que inclui desde itens de decoração até soluções de saúde miraculosas. Uma seguidora relatou ter sido enganada ao comprar um colchão anunciado a preços irrisórios, que não foram entregues.
Esses perfis não apenas promovem produtos com preços absurdamente baixos, mas também direcionam os consumidores para sites que imitam plataformas reconhecidas, como a Shopee, aplicando golpes em pagamentos via Pix. O uso de inteligência artificial na produção de conteúdo também se faz presente, somando aos riscos de desinformação e manipulação.