Ex-comandante da Aeronáutica detalha plano golpista de Bolsonaro em depoimento ao STF.; Reprodução: Jornal Nacional
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, fez uma revelação impactante durante seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), confirmando que Jair Bolsonaro esteve envolvido em um plano visando a permanência no poder. Baptista Júnior também alegou que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, ameaçou prender Bolsonaro caso ele prosseguisse com tais intenções golpistas.
O depoimento foi realizado na última quarta-feira (21), e, embora não tenha sido gravado por ordem do STF, a presença de jornalistas garantiu a documentação dos relatos do ex-comandante. Baptista Júnior, conhecido por sua postura firme, reafirmou, após já ter declarado à Polícia Federal em fevereiro de 2024, que Bolsonaro foi informado diversas vezes de que o Ministério da Defesa não identificou problemas no sistema de votação eletrônica. O ex-presidente, no entanto, teria pressionado para adiar a divulgação deste relatório.
As acusações sobre os constantes ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas foram um ponto crítico durante o depoimento. Baptista Júnior relatou ter participado de reuniões nas quais se discutia a possibilidade de implementar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou até mesmo um estado de sítio, reconhecendo que o debate parecia caminhar em direção a uma ruptura institucional. "Descobri que aqueles planos para a GLO não eram como eu conhecia, e isso começou a me deixar desconfortável", explicou. O brigadeiro, junto a outros com autoridade, sentiu que a situação estava se deteriorando rapidamente.
Durante as perguntas do procurador-geral da República, Paulo Gonet, Baptista Júnior confirmou a ameaça do general Freire Gomes em relação a uma prisão de Bolsonaro. Ele descreveu a frase como dita de maneira calma, mas firme: "Se o senhor tiver que fazer isso, eu vou ter que acabar lhe prendendo". Essas alegações contrastam com as afirmações do próprio Freire Gomes, que negou ter feito tal ameaça durante seu depoimento anterior ao STF.
Em discussão ainda sobre a possibilidade de prisões de autoridades, o brigadeiro mencionou que em uma das reuniões o então ministro da Defesa fez uma sugestão sobre libertar Alexandre de Moraes, que poderia ser preso como parte do plano. Baptista Júnior descreveu a preocupação em relação a como o Judiciário poderia intervir em ações de prisão, indicando que a situação estava longe de adequada e tranquila.
Em relação ao apoio militar, Baptista Júnior afirmou que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, estava inclinado a apoiar planos de Bolsonaro, embora sua visão pessoal fosse de hesitação em participar. Ele recordou com clareza um encontro no qual foi apresentado um documento conhecido como "minuta do golpe", que propunha a não posse do presidente eleito em 1º de janeiro, expressando sua indignação ao se opor ao documento e se retirando da sala.
Baptista Júnior admitiu que, após sua oposição ao documento, sofreu pressões e ataques, que, segundo ele, partiram do general Braga Netto.
Ao ser questionado sobre interações com o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, relatou ainda um encontro onde deixou claro que a Aeronáutica não apoiaria qualquer ruptura no país, por unanimidade de sua alta cúpula. Baptista Júnior é, agora, a última testemunha a ser chamada pela acusação no caso do chamado ‘núcleo crucial’ da trama golpista que envolve Bolsonaro. A partir de quinta-feira (22), as audiências irão ouvir testemunhas escolhidas pelos advogados de defesa, incluindo nomes que constam da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.