Um exercício militar conjunto envolvendo Brasil, Estados Unidos e outros cinco países das Américas, além da Espanha, foi realizado em Georgetown, capital da Guiana, gerando um sinal claro para a Venezuela sobre o território disputado de Essequibo. Este exercício ocorre a poucos dias da primeira eleição no novo e controverso estado da Guiana Essequiba, promovida pelo governo de Nicolás Maduro.
A reunião visou, oficialmente, desenvolver estratégias de resposta a desastres naturais, mas analistas sugerem que a verdadeira intenção foi reforçar a cooperação militar e enviar uma mensagem ao governo venezuelano. O professor Vinicius Mariano de Carvalho, do King’s College de Londres, destacou que tais operações são também atos de diplomacia, podendo atuar como um instrumento de dissuasão.
A Guiana, que sediou o exercício, anunciou em 15 de maio do ano passado que seria o local da quarta edição do Mecodex, uma iniciativa da Junta Interamericana de Defesa. Isso aconteceu logo após Maduro instaurar a Lei Orgânica para Defesa da Guiana Essequiba, formalizando a incorporação do território à Venezuela, uma decisão que gerou polêmica internacional e que a Guiana contesta.
O referendo de dezembro de 2023 em que os venezuelanos aprovaram a anexação do Essequibo gerou tensão aumentada na região, com ataques de gangues venezuelanas relatados por tropas guianesas. Desde então, confrontos e provocativos ataques têm escalado, levando a Guiana a buscar apoio militar e diplomático de seus aliados.
Os especialistas têm opiniões divergentes sobre o resultado potencial deste exercício conjunto. Enquanto alguns acreditam que intensificará o conflito, outros veem como uma oportunidade de cooperação humanitária na defesa regional. O comandante Leonel Mariano da Silva Junior defendeu a importância do exercício, enfatizando a colaboração e a partilha de experiências entre as tropas.
Por outro lado, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, classificou as recentes manobras venezuelanas como uma clara ameaça e pediu vigilância contínua. Enquanto isso, as eleições em questão levantam sérias dúvidas, uma vez que incluem apenas duas paróquias e o voto não está abrangendo a totalidade do território disputado. As informações sobre a mobilização de eleitores também estão envolvendo acusações de manipulação por parte do governo Maduro.
O exercício militar no qual diversas Forças Armadas se uniram representa um momento crucial na dinâmica entre a Guiana e a Venezuela, destacando a necessidade de apoio internacional e a complexidade das relações diplomáticas na região, especialmente frente a um cenário eleitoral controverso e provocador aos direitos de soberania envolvidos.