Bactérias e o Impacto das Roupas de Lã
Um estudo recente publicado na revista Science revelou que o uso de roupas de lã durante a Era de Bronze facilitou a transmissão da bactéria Borrelia recurrentis, responsável pela febre recorrente transmitida por piolhos. Os pesquisadores, ao analisar DNA ancestral, descobriram que essa bactéria se especializou em piolhos humanos há aproximadamente cinco a seis mil anos, numa época que coincide com o advento das vestimentas de lã.
A Relação Entre Agricultura e Doenças
Tradicionalmente, o surgimento da agricultura é associado à disseminação de doenças bacterianas, uma vez que o contato com animais domesticados expôs os humanos a novos patógenos transmitidos por carrapatos e piolhos. Entretanto, o estudo atual sugere que a evolução tecnológica na confecção de roupas também teve seu papel crucial nesse processo de contaminação. A Borrelia recurrentis, que é parente da bactéria causadora da doença de Lyme, explica a origem de várias epifenômenos históricos de febre, como a "peste amarela" no século VI e as famosas "febres de suor" entre os séculos XV e XVI.
Sintomas e Consequências da Febre Recorrente
Atualmente conhecida como febre recorrente transmitida por piolhos (LBRF, na sigla em inglês), a doença é endêmica em regiões como Etiópia, Somália e Sudão, apresentando sintomas como febres altíssimas e dores de cabeça intensa. Se não identificada e tratada rapidamente com antibióticos, pode levar a complicações graves, incluindo danos a órgãos e até morte.
A Exclusividade de Borrelia recurrentis
Um aspecto intrigante da Borrelia recurrentis é sua exclusividade em infectar seres humanos, sendo transmitida principalmente por piolhos da pele, raramente afetando os piolhos do couro cabeludo. A pesquisa focou em amostras de DNA de esqueletos de pessoas que viveram nos últimos 5 mil anos no Reino Unido, permitindo aos cientistas isolarem a presença da bactéria em indivíduos que já faleceram.
A Evolução e Especialização da Bactéria
Os pesquisadores conseguiram isolar DNA de bactérias ancestrais e reconstruir o genoma de quatro espécimes, datados entre 600 a 2300 anos. Com técnicas avançadas de biologia molecular, foi possível delinear uma linha do tempo que mostra como a bactéria transicionou de infectar animais, através de carrapatos, para passar a se especializar em infectar somente humanos por meio de piolhos.
A Conexão Entre Cultura e Doenças
A transição, que provavelmente ocorreu entre cinco e seis mil anos atrás, coincidiu com uma massiva redução no tamanho do genoma da bactéria, uma característica comum entre organismos que se especializam. Esse processo não só revela a complexidade da coevolução entre patógenos e hospedeiros, mas também enfatiza como fatores culturais, como o uso de lã, influenciam a história da saúde pública. Com isso, o estudo contribui para uma compreensão mais ampla de como novas doenças emergem em resposta às mudanças culturais e ambientais ao longo da história.