Venezuelanos enfrentam riscos em trajeto de barco pela costa do Panamá rumo ao retorno ao seu país.; Reprodução: Globo
Um número crescente de venezuelanos está enfrentando a possibilidade de um retorno arriscado ao seu país de origem, em resposta a políticas rigorosas implementadas pelo governo americano sob a administração de Donald Trump. Desde o início de 2025, mais de 10 mil pessoas partiram do Panamá para a Colômbia, uma tendência que sinaliza a adaptação dos migrantes às novas circunstâncias.
Os venezuelanos, ao longo do trajeto, enfrentam não apenas as dificuldades da viagem, mas também ameaças de roubo e sequestro. Junior Sulbarán, que deixou a Venezuela com sua filha recém-nascida, descreve o sentimento de um "sonho destruído" ao perceber que a viagem de volta para casa seria tão ameaçadora quanto a fuga inicial. Desde que se mudaram para a Cidade do México, o retorno tornou-se uma opção diante das mensagens claras do governo dos EUA contra a migração ilegal.
A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, deixou evidente que aqueles que tentarem entrar no país ilegalmente serão perseguidos. A mensagem do governo, segundo funcionários, aponta que a autodeportação está sendo incentivada, com promessas de benefícios financeiros para aqueles que optarem por retornar ao seu país. "O mundo está ouvindo nossa mensagem de que as fronteiras dos EUA estão fechadas para infratores da lei," afirmou Tricia McLaughlin, do Departamento de Segurança Interna.
Por outro lado, especialistas alertam que muitos migrantes enfrentam barreiras significativas em seus retornos. A escassez de documentos, pobreza e dívidas são obstáculos comuns, além da dureza do regime que deixaram para trás. Juan Cruz, ex-assessor de Trump, enfatiza que os migrantes estão em uma situação precária, tornando extremamente difícil o retorno mesmo quando desejam fazê-lo.
Enquanto isso, as condições ao longo da rota de volta são alarmantes. Barcos, muitas vezes precários, fazem a travessia por mais de 300 quilômetros, enfrentando mar agitado. A situação se torna ainda mais preocupante quando se considera que já ocorreram mortes neste trajeto. Em fevereiro, uma tragédia resultou na morte de uma criança de 8 anos e a necessidade de resgate para dezenas de migrantes.
Ao chegar à Colômbia, os migrantes se deparam com um novo conjunto de desafios. A região para onde se dirigem é, segundo a diretora da divisão das Américas da Human Rights Watch, controlada por grupos criminosos. Os migrantes, muitas vezes sem recursos, enfrentam extorsões e devem se acomodar nas dificuldades. Com parentes ainda na Venezuela lidando com a fome, muitos apenas desejam retornar para buscar suas famílias e, talvez, tentar mais uma vez a travessia para os EUA.