Bokum, nativo da Indonésia, protesta contra a destruição de sua terra pela mina de níquel. Reprodução: O Globo
Por volta de 3 mil nativos da Indonésia estão sendo forçados a sair de suas terras devido às atividades da maior mina de níquel do mundo, localizada na ilha de Halmahera. Desde que a exploração teve início em 2019, a área se transformou em um verdadeiro foco de conflitos entre as comunidades locais e as empresas mineradoras.
Bokum, membro da tribo Hongana Manyawa, que possui cerca de 500 integrantes, expressa sua angústia em relação ao que a exploração está fazendo com suas terras. Tido como um dos últimos caçadores-coletores isolados, ele relata que a destruição da floresta está afetando o fornecimento de alimentos essenciais, como porcos selvagens e peixes. "Não sabemos como sobreviver sem nossa terra, sem nosso alimento", desabafa Bokum.
A mina de Weda Bay Nickel (WBN), principal responsável pela degradação ambiental, é um grande fornecedor de níquel, com ao menos 17% da produção mundial vindo dela, segundo dados de 2023. A demanda pelo metal, especialmente na fabricação de aço inoxidável e baterias de veículos elétricos, tem levado à expansão desenfreada das operações mineradoras, que desfiguram a rica biodiversidade da região.
Apesar da Constituição indonésia garantir os direitos territoriais dos povos indígenas, a falta de documentação formal torna difícil para os Hongana Manyawa reivindicar suas terras. A empresa WBN, que pertence à gigante chinesa do aço Tsingshan, alega que respeita os direitos locais, mas a evidência do impacto negativo é irrefutável. Os trabalhadores da mina, segundo Bokum, têm tentado mapear o território tradicional da tribo sem autorização.
Recentemente, vídeos mostrando os membros da tribo extremamente magros e pedindo comida ganharam atenção, mas a luta pela proteção dos seus direitos e terras continua sem a devida prioridade do governo indonésio. Além da degradação ambiental, a presença da mina trouxe uma série de problemas sociais, como a crescente violência e exploração sexual na região. Em meio a esse cenário, a resistência dos Hongana Manyawa se torna ainda mais crucial, com Bokum reiterando que não entregará sua terra: "Esta é a nossa terra. Não vamos concordar que a destruam."
Cabe ressaltar que ações de grandes empresas, como a fabricante de veículos elétricos Tesla e a sueca Polestar, que propuseram a criação de áreas proibidas para proteger as comunidades indígenas, representam um importante passo, mas a efetividade dessas iniciativas ainda é incerta. A sobrevivência dos Hongana Manyawa depende da preservação de suas terras e do respeito a seus direitos, temas que devem ser cada vez mais abordados pela comunidade internacional.