Padre Moses McPherson celebra crescimento de sua congregação na Igreja Ortodoxa Russa. Reprodução: BBC News Brasil
A Igreja Ortodoxa Russa no Exterior (ROCOR), com sede em Nova York, está atraindo um número crescente de homens em busca de uma nova definição de masculinidade. O padre Moses McPherson, um sacerdote corpulento e pai de cinco filhos, tem sido uma figura central nesse crescimento, defendendo uma masculinidade tradicional e viril contra os estereótipos considerados femininos como usar roupas justas ou fazer a sobrancelha. Sua abordagem direta ressoa com muitos homens jovens que se sentem deslocados na sociedade moderna.
Com sede em Georgetown, Texas, McPherson relata que sua congregação triplicou nos últimos 18 meses. Recentemente, ele preparou 75 novos convertidos para o batismo, um reflexo do interesse crescente por sua mescla de doutrina ortodoxa e valores conservadores. "Quando minha esposa e eu nos convertemos há 20 anos, chamávamos a Ortodoxia de o segredo mais bem guardado. Agora, a realidade é outra", diz ele.
Um dos convertidos, Theodore, um engenheiro de software, compartilhou que, apesar de ter um emprego dos sonhos e uma esposa que ama, sentia-se vazio interiormente. Segundo ele, as pressões da sociedade muitas vezes atacam a masculinidade dos homens e a visão tradicional do papel deles na família. "Críticas enfrentadas por querer ser o provedor revelam uma crise de identidade masculina que não pode ser ignorada. O lar deve ser o foco dos homens, não suas carreiras", argumenta.
O padre John Whiteford, arcipreste da ROCOR, defende para seus seguidores o ensino domiciliar como essencial para manter valores religiosos e proteger os filhos das influências exteriores. Ele destaca que a crítica à masculinidade e à paternidade é inadequada e que devem ser priorizados relacionamentos familiares tradicionais. A ROCOR, com raízes na Revolução Russa de 1917, é considerada uma das vertentes mais conservadoras do cristianismo nos Estados Unidos.
Embora apenas cerca de 1% da população americana se identifique com a Ortodoxia, a crescente adesão masculina tem sido notável. Dados do Pew Research Centre mostram que 64% dos cristãos ortodoxos são homens, um importante aumento em comparação com 46% em 2007. Esta tendência é corroborada por outros estudos que revelam que muitos homens buscam novas crenças após a pandemia de Covid-19.
A presença digital de McPherson contribui para a atração da igreja, com milhares de seguidores em suas redes sociais, e um padrão crescente de podcasts e vídeos ortodoxos, predominantemente voltados para um público masculino. "A Igreja Ortodoxa não precisa ser um espetáculo. O culto deve manter a tradição, longe da emotividade excessiva que se observa em muitas denominações", afirma McPherson.
Os recentes convertidos, como Buck Johnson, bombeiro que se sentiu atraído pela ROCOR durante a pandemia, relatam suas experiências positivas, mesmo enfrentando preconceitos relacionados à imagem de Rússia no Ocidente. Embora a mídia frequentemente incorpore visões distorcidas, há uma percepção crescente de que a Rússia representa um bastião da fé e da moral tradicional.
Na busca por tradições e por uma vida que prioriza a comunidade e a família, bem como a educação domiciliar, muitos homens estão encontrando na Igreja Ortodoxa Russa um alinhamento novo e confortável contra os valores modernos. Como Buck reflete: "Estamos buscando significado e um futuro que valorize o amor pela família e a comunidade, longe do consumismo e gratificação instantânea. A Ortodoxia parece se encaixar bem em nossa busca por um propósito mais profundo."