Decisão Judicial Vira Foco de Polêmica na Cracolândia
A Justiça de São Paulo determinou que a Prefeitura preserve as imagens captadas por câmeras de vigilância na região da Cracolândia entre os dias 1º e 14 de maio deste ano, um período crítico que antecedeu o momento em que a área ficou completamente vazia. A decisão foi tomada pela juíza Juliana Brescansin Demarchi Molina, da 7ª Vara da Fazenda Pública, em resposta a um pedido feito pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que buscam investigar possíveis ilegalidades nas ações da Guarda Civil Metropolitana (GCM) ocorridas durante este intervalo.
Imagens obtidas em maio pelo g1 mostram GCMs agredindo usuários e comerciantes nos dias 10, 11 e 12 de maio. As gravações revelam episódios de violência, incluindo uso de cassetetes, chutes e socos contra pessoas em situação de rua. "Eles querem dispersar o pessoal aqui do Centro, então eles agridem o pessoal", afirmou Valdeizo Fortunato de Lima, um comerciante da área que registrou as agressões.
A determinação judicial exige que o município "promova a imediata preservação e conservação das imagens" das câmeras de segurança antes que sejam deletadas, uma vez que o sistema de monitoramento da Prefeitura, chamado SmartSampa, efetua a exclusão automática em um prazo de 30 dias.
Condições de Segurança e Agressões na Cracolândia
Testemunhas relatam que, nas semanas que antecederam o sumiço dos usuários, as agressões por parte da GCM se intensificaram. Três comerciantes que falaram ao g1 relataram ter presenciado o uso excessivo de spray de pimenta e agressões físicas direcionadas a usuários de drogas. As imagens gravadas também confirmam a brutalidade nas abordagens, como um episódio em que um homem é puxado e empurrado durante uma compra na região.
No dia 13 de maio, a Cracolândia amanheceu sem usuários. No dia anterior, agentes da GCM foram filmados agredindo um grupo na Rua Mauá, em uma ação que, segundo Lima, apresentava uma clara intenção de "limpar" a área. O comércio local manifestou a preocupação com a brutalidade, indicando que a situação se agravou nos últimos meses, com relatos frequentes de agressões.
Medidas de Repressão e Impacto na Comunidade
Desde 2024, a Justiça em São Paulo havia proibido a GCM de agir como Polícia Militar em operações na Cracolândia, restringindo o uso de armas não letais. Apesar das ordens judiciais, relatos de ameaças e violência se tornaram comuns. "Eles ameaçam a gente de todo jeito: levaram minha mochila, me bateram", disse um usuário que preferiu não se identificar.
A ausência dos usuários no dia 13 de maio foi atribuída, segundo o promotor de justiça Fabio Bechara, ao fim de um ecossistema criminoso que sustentou a Cracolândia por décadas e à operação de combate ao tráfico na Favela do Moinho, resultando na prisão de Léo do Moinho, um dos traficantes mais influentes na região.
O prefeito Ricardo Nunes também afirmou que as operações de segurança urbana contribuíram para a diminuição do fluxo de usuários, indicando que o tratamento para dependentes aumentou na sequência das operações. Em um único dia, 60 pessoas procuraram tratamento voluntariamente, o que sinaliza um movimento em direção à recuperação.
Posição da Prefeitura e Expectativas Futuras
A Prefeitura de São Paulo defende que a atuação da GCM é essencial para a segurança da população, afirmando que comportamentos inadequados dos agentes serão investigados. Desde 2021, a administração tem priorizado o atendimento social e de saúde para usuários de drogas nesta região, tentando equilibrar a repressão e o cuidado.
Este contexto revela uma tensão crescente entre as estratégias de segurança pública e os direitos humanos, obrigando as autoridades a reavaliarem suas abordagens diante das graves denúncias de violência.