Um racha profundo está se formando na manosfera, um espaço digital habitado por influenciadores de masculinidade, após o ataque aéreo de Israel às instalações nucleares do Irã, ocorrido na noite de 12 de junho. Este evento não apenas acirrou a tensão já existente, mas também expôs profundas divisões ideológicas entre os integrantes desse grupo, que, até então, parecia monolítico.
Tradicionalmente, a manosfera se alinha contra a cultura feminista e a correção política, com figuras como Donald Trump e Elon Musk sendo vistas como modelos de masculinidade. Contudo, a reação ao ataque de Israel evidencia que essa impressão de unidade é superficial. Alguma parte dos influenciadores masculinos defende Israel como um bastião dos valores ocidentais, enquanto outros se opõem veementemente à intervenção dos Estados Unidos em mais um conflito no Oriente Médio.
Por um lado, Ben Shapiro, cofundador do Daily Wire, lidera os defensores de Israel, posicionando-se rapidamente após o ataque em uma transmissão ao vivo. Para ele, Israel agiu corretamente, e sua mensagem, amplamente compartilhada, tenta solidificar a ideia de que não está sozinha neste combate. Ele afirmou a seus 7.8 milhões de seguidores que a ação foi uma defesa legítima das civilizações ocidentais e judaico-cristãs.
No entanto, essa visão não é compartilhada por todos. Tucker Carlson, por exemplo, expressou seu descontentamento com a resposta do governo Trump, criticando a alegação de que os EUA não estavam envolvidos na operação. Em um tom alarmista, alertou que este poderia ser o início de uma guerra total, especialmente diante da ameaça do Irã de retaliar, colocando em risco a segurança dos cidadãos americanos.
Outra voz influente, Charlie Kirk, também ecoou essas preocupações, advertindo que a participação dos EUA neste conflito poderia ser desastrosa. Ele comparou a situação ao cenário da guerra na Ucrânia, argumentando que a América perderia em qualquer conflito prolongado com o Irã. Por sua vez, Andrew Tate adotou uma abordagem mais irônica, satirizando a linguagem que justifica as ações militares israelenses.
As vozes muçulmanas dentro da manosfera, como Myron Gaines, também se manifestaram, criticando potenciais erros de estratégia que, segundo eles, poderiam danificar legados políticos, referindo-se ao histórico envolvimento dos Estados Unidos em guerras no Oriente Médio. A complexidade da situação se intensifica quando se considera que muitos dos influenciadores são, ironicamente, apoiadores de Trump, que agora encontram um impasse com sua política externa.
A divisão ideológica se torna ainda mais acentuada, refletindo um movimento que parece incapaz de administrar suas disparidades. Influenciadores cristãos nacionalistas e libertários isolacionistas estão em conflito, e o que anteriormente unia esses grupos — um repúdio ao feminismo e apoio a Trump — já não é mais suficiente. Se a escalada do conflito ocorrer, a fragilidade dessa rede de influenciadores pode resultar em um cisma irreversível, questionando o que a manosfera realmente representa quando a discussão transcendia as guerras culturais e se torna uma batalha de que vidas valem a pena defender. A pressão sobre essas alianças está crescendo, e independentemente do resultado, a imagem da manosfera poderá nunca mais ser a mesma.