Em um dia que prometia ser glorioso, o Cruzeiro entrou em campo no Mundial de Clubes de 1997, enfrentando o Borussia Dortmund em uma final marcada por expectativas e reviravoltas. O time, que havia acabado de conquistar a Libertadores, buscava adicionar o título mundial ao seu currículo, mas o clima de incerteza pairava sobre a equipe após um desempenho irregular no Campeonato Brasileiro, onde flertou com o rebaixamento.
Após a conquista da América, o presidente do clube, Zezé Perrella, decidiu reforçar o elenco para o Mundial. Nomes como Bebeto, Donizete e Gonçalves foram trazidos à força, oferecendo recompensas significativas: "Estava pagando um prêmio muito legal para serem campeões. Para a época, era bastante grana. Eu diria cinco vezes o salário de cada um deles", revelou Perrella. Contudo, a motivação surgiu acompanhada de ciúmes e tensões entre os jogadores.
O duelo contra o Borussia se iniciou com esperanças, mas o resultado final não foi doce para os mineiros. O time sentiu a falta de entrosamento e, apesar das boas intenções, acabaram sendo derrotados por 2 a 0. Os jogadores de aluguel, que estavam no clube por apenas um mês, mal tiveram tempo de se adaptar a um elenco que já sentia os efeitos da pressão. O técnico Nelsinho Batista optou por não escalar muitos dos jogadores que apenas se juntaram ao grupo para essa partida decisiva, levando à frustração de quem estava presente durante toda a campanha vitoriosa da Libertadores.
O lateral Nonato, em particular, sentiu a amargura de não ser escalado na final: "A minha frustração maior é que esse jogo fez minha filha não ser mais torcedora do Cruzeiro. Ela acordou cedo para assistir ao jogo, e eu fiquei no banco". Esse sentimento era compartilhado por outros jogadores que, mesmo celebrando a conquista anterior, viam com desdém as chegadas temporárias de jogadores vindos de outros clubes.
"Os caras vêm aqui, vão jogar, ganhar (dinheiro) e vão embora? Isso foi ruim", afirma Donizete Pantera, que notou a resistência do vestiário aos novos reforços. "Se tivesse sido o mesmo elenco, com Paulo Autuori, a chance de sair campeão seria melhor". Ele descreve a atmosfera conturbada que recebeu os novos jogadores e como essa rivalidade velada poderia ter impactado o desempenho da equipe naquela final.
Perrella, ao comentar sobre a situação, admitiu: "Sempre tem uma ciumeirinha. O Nelsinho não quis levar o Gotardo, a sua liderança era positiva". O presidente se defendeu de críticas sobre a decisão de contratar novos jogadores para um duelo tão importante, afirmando que a opção foi tomada para evitar o fiasco de levar um time que quase foi rebaixado.
As lições aprendidas naquele Mundial ainda ecoam entre os jogadores que buscaram a glória. A experiência fina entre qualificação e pressão, somada à fragilidade emocional do elenco, deixou marcas que ainda ressoam nos membros daquela equipe. O episódio se tornou um marco na história do Cruzeiro, lembrado como um tempo de grande potencial que, por muitos motivos, não se concretizou em um título mundial. A frustração ficou, mas a esperança de novos capítulos na história da equipe permanece viva.