Os medicamentos para perda de peso, como o Ozempic, estão provocando mudanças significativas nas dinâmicas familiares nos Estados Unidos, impactando não apenas os usuários, mas também seus familiares. A experiência de Amy Kane, que perdeu mais de 77 quilos com Mounjaro, ilustra bem essa transformação. Após iniciar o tratamento, seus filhos e marido passaram a adotar hábitos alimentares mais saudáveis, demonstrando o efeito contagioso da mudança de estilo de vida.
Estudos recentes indicam que cônjuges de pacientes em tratamentos de emagrecimento frequentemente também perdem peso. Lydia Alexander, ex-presidente da Associação de Medicina da Obesidade, ressalta que embora não existam dados conclusivos sobre a frequência desse fenômeno, efeitos semelhantes foram observados em condições análogas, como tratamentos cirúrgicos para obesidade.
Um estudo indicou que aproximadamente 66% dos parceiros de pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica emagreceram em até um ano. Outra pesquisa apontou que, entre diabéticos em um programa de emagrecimento, cônjuges não tratados conseguiram perder em média 2,5 quilos, além de reduzir a ingestão de calorias. A difusão dessa mudança na família é descrita pelo professor de Pediatria Joey Skelton, que afirma que esses medicamentos não apenas transformam o apetite, mas também afetam a dinâmica familiar. Em 2024, um em cada oito adultos nos EUA já havia experimentado Ozempic ou outro remédio similar.
A relação de Kane com a comida e a vida familiar mudou substancialmente. Antes, suas tentativas de emagrecimento eram repletas de restrições que afetavam momentos de lazer. Agora, ela descreve seu novo estilo de vida como natural, possibilitando maiores atividades com seus filhos, como caminhadas e até festas de dança. Com uma alimentação mais balanceada, ela percebeu que o marido também começou a se alimentar melhor.
A obesidade é, segundo Yelena Kibasova, uma questão frequentemente familiar. Ela experimentou mudanças em sua casa ao começar a usar um remédio para emagrecimento. Kibasova expressa preocupação sobre como as crianças interpretam essas mudanças, especialmente no que diz respeito à alimentação. Para mitigar possíveis mensagens negativas sobre a restrição alimentar, ela faz questão de explicar a seu filho que a obesidade é uma doença e que seu tratamento é uma forma de gerenciar sua saúde. Essa abordagem contribuiu não apenas para o entendimento do filho, mas também para a melhora de sua autoestima.
No entanto, a transformação na alimentação e estilo de vida pode trazer desafios para os relacionamentos amorosos. A mudança repentina relacionado ao modo de cozinhar e comer pode afetar a conexão entre casais que costumavam compartilhar essa atividade. Estudos demonstram que casais que passam por cirurgia bariátrica têm um maior risco de separação. Pratt, que desenvolve guias para orientar pacientes bariátricos, agora aplica essa experiência na criação de materiais para pacientes utilizando medicamentos como o Ozempic, sugerindo que os médicos abordem essas questões desde o início do tratamento.
Para Kia Griffin-Thomas, a experiência de tomar um remédio para emagrecer demandou repensar o planejamento das refeições para a família. Ela passou a envolver seus filhos nas atividades de cozinha, fortalecendo laços familiares. A transformação não se limitou à alimentação; seu marido transformou um espaço da casa em uma academia para que pudessem treinar juntos novamente. Essas novas interações não apenas revitalizaram sua relação, mas também trouxeram um sentimento de união e alegria à família.
Embora os medicamentos para perda de peso sejam constantemente discutidos em um contexto de saúde individual, suas repercussões sobre a dinâmica familiar são inegáveis, apresentando tanto riscos quanto benefícios que devem ser geridos com cuidado.