A novela Vale Tudo, um dos sucessos das 21h, traz um retrato atual sobre a saúde mental no ambiente de trabalho, a partir dos personagens Renato Filipelli e Sardinha. O diálogo entre eles expõe o conceito de burnon, uma síndrome ainda pouco conhecida, mas que se fortalece no contexto da sobrecarga emocional e física.
No desenrolar da trama, o personagem Renato, interpretado por João Vicente de Castro, representa muitos trabalhadores que vivem em função do trabalho, abrindo mão da vida pessoal e, até mesmo, chegando a dormir no escritório. Sua filosofia de vida reflete uma demanda crescente por produtividade, onde ele prefere o "office home do que o home office". Sardinha, vivido por Lucas Leto, coloca em discussão a possibilidade de Renato estar sofrendo de burnon, afirmando que "o burnon é o estágio crônico do burnout". Enquanto Renato afirma estar "ótimo", a verdade por trás de seus sintomas pode ser bem diferente.
Burnout versus Burnon: Qual a Diferença?
O burnon, conceito desenvolvido pelos psicólogos Timo Schiele e Bert te Wildt na Alemanha, apresenta sintomas opostos aos do burnout. O burnout é caracterizado por exaustão extrema, queda na performance e um distanciamento emocional do trabalho. Em contrapartida, o burnon se refere a uma devoção excessiva à atividade profissional, onde o indivíduo se mostra entusiasta a ponto de ignorar suas próprias necessidades.
A gravidade do burnout pode levar a colapsos emocionais e, em casos extremos, internações. O cardiologista Edmo Atique Gabriel explica que enquanto o burnout resulta em esgotamento, o burnon se traduz em uma adaptação desgastante ao estresse. As pessoas com burnon relatam uma luta diária para se manterem funcionais, enfrentando estresse sem alcançar o colapso.
Reconhecendo Os Sintomas
As duas condições têm semelhanças: há uma perda significativa na qualidade de vida e saúde. O burnout, frequentemente, leva as pessoas a se afastarem completamente das suas obrigações profissionais, enquanto o burnon mantém o indivíduo preso em um ciclo de estresse constante. Estar permanentemente estressado gera sintomas como intolerância e episódios de agressividade, o que, segundo Edmo, pode impactar a saúde cardiovascular e aumentar o risco de problemas sérios como infartos.
Tratamento: Paz em Meio ao Caos
Para aqueles que reconhecem sinais de burnon, o primeiro passo é entender que há um problema. Muitas pessoas aparentam estar bem, mas é fundamental ouvir familiares e amigos que possam notar a mudança. Timo Schiele ressalta a importância de refletir sobre as próprias prioridades: "As pessoas apaixonadas pelo trabalho frequentemente negligenciam suas necessidades pessoais. Isso pode gerar insatisfação crônica".
Um bom começo para a mudança inclui práticas de autocuidado e atividades relaxantes, que podem variar de pessoa para pessoa. Caminhadas, meditação e a adoção de um novo estilo de vida são recomendações. O uso de ansiedade ou antidepressivos pode ser considerado, mas Edmo enfatiza que a mudança de hábitos é a chave para a resolução do burnon."