Kiev expressa apoio aos ataques israelenses contra o Irã, aliado fundamental da Rússia, mas dirigentes ucranianos alertam para os riscos que essa situação pode trazer à sua luta contra Moscou. O aumento do preço do petróleo, impulsionado pelos conflitos, é especialmente preocupante para a economia e as capacidades defensivas da Ucrânia.
Apesar de reconhecerem a importância da ofensiva israelense, os líderes ucranianos estão temerosos de que a atenção global se desvie de sua própria batalha contra a Rússia. Este receio é acentuado pelos avanços russos, que podem se beneficiar da diminuição do foco internacional causado pelas tensões entre Israel e Irã.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou recentemente que, com a nova escalada de conflitos no Oriente Médio, a assistência dos Estados Unidos à Ucrânia pode estar comprometida. Desde a ascensão de Donald Trump, as prioridades de segurança dos EUA mudaram, elevando a preocupação de Kiev sobre uma possível diminuição do apoio militar.
"Ninguém está exigindo uma relação mais próxima do que a entre EUA e Israel, mas gostaríamos que a ajuda à Ucrânia não fosse reduzida por esses ataques ao Irã", declarou Zelensky, ressaltando a importância do suporte militar americano diante das ameaças russas.
Com o início da guerra na Faixa de Gaza, após o ataque do Hamas em outubro de 2023, a Ucrânia viu uma queda em sua assistência militar. Em resposta a este cenário, o governo ucraniano decidiu focar no fortalecimento de sua própria indústria de defesa, sendo que Zelensky estimou que os EUA poderiam enviar 20 mil mísseis para a região, o que seria crucial para a defesa do país contra a Rússia.
Embora a Ucrânia apoie os ataques a Teerã, há ainda uma preocupação sobre como a situação no Oriente Médio pode prejudicar sua própria luta contra a invasão russa. Um político ucraniano, que preferiu não se identificar, afirmou: "O regime iraniano é um aliado da Rússia. E quanto mais perderem, melhor para nós".
A invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022, resultou em milhares de mísseis e drones lançados contra a Ucrânia, muitos dos quais têm origem iraniana. Os ataques de Israel não apenas visaram a eliminação de líderes militares iranianos, mas também a destruição de fábricas que forneciam armamentos à Rússia. Zelensky comentou otimistamente que as ações israelenses podem reduzir o envio de armas do Irã para Moscou, o que seria benéfico para a Ucrânia.
Entretanto, o Ministério da Defesa britânico observou que a atenção global direcionada à crise no Oriente Médio pode trazer benefícios à Rússia, distraindo a comunidade internacional de suas ações na Ucrânia. "A Rússia entende que, com o conflito, haverá certas vantagens, uma vez que isso desviar atenção do seu combate contra a Ucrânia", afirmou.
Ademais, a Rússia continua a desenvolver seus próprios drones e mísseis, além de contar com recursos da Coreia do Norte. O analista militar Serhiy Sternenko alertou que, apesar das celebrações em torno dos ataques ao Irã, é preciso cautela: "Se os preços do petróleo permanecerem altos, os russos se beneficiarão disso. Para a Ucrânia, o desafio maior é justamente o aumento nos custos do petróleo".