Um novo estudo revela que a destruição das estátuas da famosa faraó Hatshepsut pode ter sido motivada por rituais antigos e não apenas por vingança política. Hatshepsut, que governou como faraó de 1473 a 1458 a.C., foi uma das raras mulheres a assumir esse título, inicialmente atuando como regente para seu sobrinho Thutmose III. Após sua morte, a narrativa tradicional sugeria que Thutmose III tinha destruído as representações de sua antecessora por motivos pessoais, mas pesquisas recentes indicam que as razões são mais complexas.
O egiptólogo Jun Yi Wong, da Universidade de Toronto, analisa a situação em um artigo publicado no jornal Antiquity e sugere que uma parte significativa dos danos nas estátuas de Hatshepsut foi resultado de "rituais de desativação". Esses rituais, associados aos costumes funerários egípcios, podem ter envolvido a destruição como parte de práticas destinadas a neutralizar o poder inerente das estátuas. "Após sua morte, os monumentos de Hatshepsut foram alvo de um programa sistemático de destruição", explica Wong.
From 1922 to 1928, durante escavações no templo mortuário de Hatshepsut, arqueólogos encontraram fragmentos de suas estátuas que levaram Herbert Winlock, diretor das escavações, a afirmar que se tratavam de "reliquias irritantes da vingança de Thutmose". No entanto, Wong ressalta que essa percepção pode não cobrir toda a extensão do que ocorreu com as estátuas. Muitas delas foram descobertas em condições preservadas, com rostos intactos, levantando questões sobre a suposta intenção de Thutmose III em erradicar a memória de sua tia.
Ele aponta que intervenções semelhantes foram observadas em estatuárias de outros governantes egípcios, não só Hatshepsut, sugerindo que a prática não era necessariamente hostil. Alguns fragmentos, quebrados no pescoço, joelhos ou tornozelos, podem representar uma forma de "desativação" ritual, e não um ataque deliberado. Além disso, a reutilização das estátuas como material de construção durante períodos posteriores também pode ter agravado os danos.
Embora o estudo traga uma nova luz sobre as circunstâncias que cercam a destruição das estátuas de Hatshepsut, Wong reconhece que ela foi, de fato, alvo de um programa de perseguição. "As implicações políticas mais amplas disso não podem ser subestimadas", conclui. A complicada relação entre Hatshepsut e Thutmose III é um lembrete das sutilezas do poder e das representações na Antiguidade.
O entendimento de que Hatshepsut foi tratada como outros faraós após sua morte, apesar das ações hostis, destaca ainda mais sua ascensão ao trono em uma era dominada por homens, tornando sua história ainda mais notável.