Uma acareação crucial ocorre no Supremo Tribunal Federal (STF), onde Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, se enfrenta com Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, para esclarecer contradições sobre suas participações em reuniões no Palácio da Alvorada. O objetivo é investigar a suposta trama golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e suas tentativas de reverter o resultado das eleições de 2022.
O STF conduziu a audiência nesta terça-feira, onde tanto Torres quanto Freire Gomes dedicaram cerca de uma hora e quinze minutos para discutir os eventos. Anteriormente, o ex-ministro Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid também participaram de uma acareação relacionada ao mesmo caso. Os depoimentos visam esclarecer divergências entre os relatos dos envolvidos e, embora não sejam gravados, as atas das sessões serão disponibilizadas.
Durante a audiência, Freire Gomes, que atuou como testemunha de acusação, relatou que Anderson Torres esteve presente em uma ou duas reuniões onde medidas que poderiam reverter o resultado das eleições foram discutidas. Torres, por sua vez, nega ter participado dessas reuniões, citando registros de entrada que demonstrariam que ele não estava no Palácio da Alvorada ao mesmo tempo que Freire Gomes.
Outro ponto debatido foi um documento encontrado na residência de Torres, que supostamente previa a decretação de um estado de defesa. Freire Gomes, em depoimento anterior, sugeriu que o conteúdo do documento foi abordado em uma das reuniões com Bolsonaro. No entanto, durante seu interrogatório no STF, o general apontou que o teor do documento era apenas ‘semelhante’ ao discutido.
Cabe destacar que a audiência contou com a supervisão do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, e teve a participação do ministro Luiz Fux. A defesa de Braga Netto levantou questões sobre possíveis incoerências entre os depoimentos do ex-comandante e de Mauro Cid, incluindo detalhes de uma reunião na casa de Netto e uma alegada entrega de dinheiro.
A acareação de Torres e Freire Gomes deverá abordar especificamente a participação deste último nas reuniões em que Bolsonaro discutiu possíveis alternativas para contestar o resultado da eleição. As sessões ocorrerão em caráter reservado e podem contar com a presença do ex-presidente Bolsonaro, que, apesar de atualmente estar se recuperando de uma pneumonia, manifestou interesse em acompanhar o procedimento.
Os advogados de Braga Netto pretendem explorar as discrepâncias sobre a reunião em sua casa, onde Cid e outros militares estariam presentes. O tenente-coronel alegou que a reunião evidenciou a insatisfação com o resultado eleitoral, enquanto Freire Gomes descreve a situação como uma mera visita social. Além disso, o testemunho de Cid sugere que houve uma tentativa de financiar um plano golpista, assunto que ainda precisa de elucidação.
As acareações serão um elemento chave no desdobrar dessa investigação. O relator irá conduzir os procedimentos e deve haver um acompanhamento rigoroso para esclarecer as divergências apresentadas, que podem ter grandes implicações políticas e judiciais sob análise do STF.