A esquerda chilena elegeu Jeannette Jara, do Partido Comunista, como candidata presidencial para as eleições de 16 de novembro. Aos 51 anos, Jara, que foi ministra do Trabalho no governo de Gabriel Boric, alcançou 60% dos votos nas primárias, superando Carolina Tohá, do PS, que obteve 28%. O resultado marca um importante avanço do Partido Comunista desde o retorno da democracia em 1990, tendo em vista que é a primeira vez que coloca uma candidata em disputa pela presidência.
O processo eleitoral, que contou com a participação de 1,4 milhões de pessoas, demonstrou uma baixa mobilização da base progressista, com apenas 9% do eleitorado comparecendo às urnas. A votação voluntária deixou de lado os afiliados de partidos sem primárias, indicando fragilidade na capacidade de motivar eleitores, especialmente em comparação com as primárias de 2021, que reuniram 1,7 milhões de votantes. O clima de incerteza se acentua à medida que Jara enfrenta uma direita forte, com três candidatos notáveis: Evelyn Matthei, José Antonio Kast e Johannes Kaiser.
A resposta da política chilena aos resultados foi clara. Tohá reconheceu a derrota, enfatizando a necessidade de união entre os setores progressistas e a importância do compromisso com um projeto robusto contra a direita. Tohá, que antes era a favorita para a candidatura, viu-se agora subjugada aos setores mais radicais da esquerda, um reflexo das divisões internas que emergiram durante a campanha.
Com o surgimento de Jara, as diferenças ideológicas entre os candidatos foram acentuadas, especialmente no que diz respeito à economia e à segurança pública. O presidente Boric expressou esperança de que todos os setores progressistas se unam diante da candidatura de Jara, mas a pergunta é se a nova candidata terá a força necessária para guiar o partido em um ambiente político desafiador.
Em relação às intenções de voto, um recente levantamento da Cadem mostrou uma ascensão de Kast para 24% e Jara alcançando 16%. Matthei, que já esteve entre os favoritos, caiu para 10%, empatando com o populista Franco Parisi. Esses dados trazem uma perspectiva preocupante para a candidatura de Jara, que poderá enfrentar dificuldades significativas na polarização eleitoral que se aproxima.
O histórico do Partido Comunista no Chile é repleto de desafios: desde 1990, seus membros estiveram marginalizados e lutaram para assumir um papel protagonista, tendo conquistado uma posição mais relevante na política chilena nos últimos anos. A eleição de Jara representa uma nova fase, mas a eficácia de sua representação ainda está por ser provada, especialmente dado o baixo número de votos obtidos, que não chega a um milhão, em comparação com os mais de 1,1 milhões que Boric conseguiu em 2021.
Num contexto onde a direita parece estar mais forte e a população clama por segurança e crescimento econômico, Jara enfrenta uma tarefa árdua para conseguir unir a base progressista e obter apoio após as primárias.