A chegada da montadora chinesa BYD à Bahia tem gerado intensos debates no setor automotivo brasileiro. A empresa optou por utilizar os sistemas SKD e CKD, que consistem na montagem de veículos semi-prontos, o que levanta preocupações sobre a geração de empregos e o equilíbrio competitivo no mercado. A solicitação da BYD para a redução de impostos sobre kits importados agrava a disputa com montadoras já estabelecidas, que não pediram incentivos fiscais, mas recentemente anunciaram investimentos significativos em produção e tecnologia no Brasil.
Os sistemas definidos pela BYD para a montagem, SKD (Semi Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down), permitem que carros semi-prontos cheguem do exterior e sejam montados localmente. Contudo, esse processo é criticado por entidades da indústria, que argumentam que ele resulta em menos postos de trabalho na comparação com montagens que utilizam componentes locais. "Usar SKD e CKD é comum no início. Depois, com aumento do volume vendido, a montadora começa a ter produção local com nacionalização de itens como pneus e bancos", explica Milad Kalume Neto, especialista em indústria automotiva.
O sistema SKD, por exemplo, reduz significativamente a necessidade de partes nacionais, visto que as montadoras locais apenas finalizam a montagem, refutando a proposta de gerar uma cadeia de fornecedores local. Já o sistema CKD envolve a chegada das peças separadas, o que requer linhas de montagem mais sofisticadas e ainda permite certa utilização de componentes locais, mas em menor escala.
A polêmica tomou maior corpo quando a BYD solicitou ao governo a diminuição das taxas de importação. A montadora pede que a tarifa sobre os kits SKD e CKD seja reduzida de 20% para 5% em veículos elétricos e de 18% para 10% em híbridos. Em resposta, Igor Calvet, presidente da Anfavea, ressaltou que as montadoras que já atuam no Brasil estão investindo em novas tecnologias sem buscar reduções de tarifas, afirmando que essa postura é uma demonstração de que é possível avançar sem ajuda governamental.
A indústria automotiva no Brasil, que surgiu na década de 1950, evoluiu com um índice de nacionalização dos veículos entre 65% e 90%, contribuindo substancialmente para a geração de empregos no setor, que atualmente emprega mais de 400 mil pessoas e faturou R$ 260 bilhões no último ano. Enquanto a BYD avança com seus planos de montagem na Bahia, a disputa por um equilíbrio na concorrência e a geração de empregos locais continua sendo uma questão de grande relevância.
Com o movimento de entrada da BYD na Bahia, surgiu uma nova fase para o mercado automotivo nacional, elevando a discussão sobre a melhor forma de desenvolver a indústria no Brasil, unindo a ingenuidade das novas montadoras à necessidade de fortalecer a cadeia produtiva local através do emprego de recursos e peças nacionais.