O governo de Luiz Inácio Lula da Silva experimenta um renovado fôlego em meio a uma crise financeira, graças à dinâmica política envolvendo a família Bolsonaro e a pressão de tarifas elevadas propostas por Donald Trump. A relação entre os extremos políticos no Brasil, uma vez vista como divisiva, agora se torna um instrumento que Lula pode utilizar para reverter a percepção negativa de sua administração.
Atualmente, o executivo enfrenta um cenário complicado. Sem uma base sólida no Congresso, subiu impostos e sofreu derrotas significativas, como a suspensão do decreto sobre o IOF, gerando um clima de desgaste e desacordos. Ao buscar alívio, Lula acionou o STF para restaurar decisões legislativas favoráveis. Essa medida, vista como um golpe contra os parlamentares, intensificou a retórica de divisão entre o governo e as elites. O discurso de "nós contra eles" ressurge, distorcendo o foco das críticas sobre a falta de entregas efetivas da gestão petista.
Em uma reviravolta inesperada, uma postagem de Trump sobre tarifas de 50% sobre produtos brasileiros revertia a pressão sobre Lula. Reconhecendo a gravidade da situação, Bolsonaro e seus aliados rapidamente usaram a retórica de defesa nacional para desviar a atenção, possibilitando a Lula um novo ângulo de ataque sob o antigo pretexto da luta contra o imperialismo dos EUA.
O movimento teve impacto imediato no empresariado. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outras organizações deixaram clara sua posição, afirmando que a economia não poderia se submeter a interesses políticos pessoais. O Congresso, que anteriormente mantinha distância, agora se via compelido a apoiar Lula, defendendo a necessidade de união diante das ameaças externas.
A cobertura da mídia mudou, focando nas manifestações de defesa nacional em resposta à pressão tarifária. Questões internas como o corte no orçamento dos ministérios e casos de corrupção passaram a ser ignoradas, enquanto políticos adversários hesitam em criticar a administração atual em decorrência do clima de união imposto pela narrativa bolsonarista.
O jogo político se apresenta, assim, em um ciclo vicioso, onde o antagonismo gera benefícios inesperados para o governo petista. Desde o início da sua gestão, Lula tem se beneficiado de crises criadas pela polarização política. Após os ataques de 8 de janeiro de 2023, ele se viu novamente em uma posição recuperada, ainda que a sustentabilidade desse trunfo seja incerta e questionável no longo prazo.