O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou um caminho inesperado para reverter sua queda de popularidade, impulsionado pela recente medida tarifária aplicada pelos Estados Unidos. Um estudo da Quaest, divulgado nesta quarta-feira, mostra uma leve recuperação no apoio ao governo, após o anúncio do tarifaço de 50% nas exportações brasileiras.
A desaprovação ao governo Lula caiu de 57% em maio para 53%, enquanto a aprovação subiu de 40% para 43%. Embora os dados estejam dentro da margem de erro, a diferença entre a reprovação e a aprovação diminuiu de 17 para 10 pontos percentuais. Esta é a primeira recuperação observada desde julho de 2024, quando a popularidade de Lula teve um declínio acentuado em meio a diversas crises.
A recuperação nas taxas de aprovação foi mais evidente no Sudeste, região mais afetada pelo tarifaço. Na área, a aprovação do governo Lula aumentou de 32% para 40%, e a desaprovação recuou de 64% para 56%. No Nordeste, os números permaneceram mais estáveis, com a aprovação caindo levemente de 54% para 53%, e a desaprovação mantida em 44%.
Segundo Felipe Nunes, cientista político e diretor da Quaest, a recuperação na popularidade de Lula se deu principalmente entre a classe média educada no Sudeste, a qual percebe as tarifas de Trump como um ataque direto e considera que Lula está respondendo adequadamente à situação.
No entanto, a pesquisa também destaca que a estratégia do governo, que se baseia na polarização entre “ricos e pobres”, tem limitações. Mais da metade da população, 53%, considera essa abordagem incorreta, alegando que ela apenas intensifica a briga e a polarização no país. Somente 38% dos entrevistados a aprovam, sugerindo que as táticas de comunicação do PT não têm o efeito desejado.
Após o anúncio do tarifaço, Lula adotou uma postura cautelosa, evitando declarações extremas e colaborando com um grupo de trabalho, sob a liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin, para discutir medidas com empresários dos setores mais atingidos. Lula expressou a intenção de negociar com os Estados Unidos, reservando retaliações como última opção, ciente de que a aplicação da Lei da Reciprocidade poderia causar danos a todos os envolvidos.
A leve recuperação na popularidade de Lula reflete um fenômeno observado em outros países, onde líderes com baixo apoio conseguiram reverter a opinião pública com o auxílio de intervenções inesperadas, como é o caso das políticas de Trump. As próximas pesquisas serão fundamentais para avaliar se a defesa da soberania nacional e a promoção da independência do Judiciário têm potencial para restaurar a relevância de um governo que enfrenta crisis consecutivas. Segundo a Quaest, 59% da população não se vê representada pela nova agenda do governo. Para solidificar a recuperação, Lula precisará ir além do embate proposto por Trump e buscar um diálogo mais abrangente.