A coleta silenciosa de dados nas redes sociais
As redes sociais estão transformando seus usuários em fontes valiosas de dados ao coletar informações de forma agressiva e silenciosa, muito além do que os indivíduos fornecem conscientemente. De acordo com dados de 2024 do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.Br), oito em cada dez usuários de internet no Brasil utilizam regularmente essas plataformas, sem uma verdadeira noção do quanto suas informações pessoais são comercializadas.
Categorias de dados coletados
A coleta de dados ocorre em diversas camadas. A camada “zerésima” é composta pelas informações básicas que os usuários preenchem, como nome e idade. Já as demais camadas incluem dados comportamentais, onde as plataformas monitoram as atividades, como curtidas, comentários e o tempo gasto em cada post. O consultor de mídia dinamarquês Thomas Baekdal denomina esses dados de "primeira ordem", que são utilizados para inferir hábitos de consumo e comportamentos, criando perfis de usuários que são vendidos para anunciantes em leilões automatizados.
A invasão dos cookies de terceiros
Outro aspecto alarmante é a coleta de dados por meio de cookies de terceiros. Esses pequenos arquivos permitem que empresas rastreiem as ações dos usuários de um site para outro, montando um "diário de bordo" de suas atividades online. Esses dados podem ser cruzados com informações externas e vendidos, criando perfis ainda mais detalhados, incluindo dados sensíveis, que alimentam um mercado obscuro de corretores de dados.
A fragilidade da privacidade
Muitos usuários acreditam erroneamente que seus dados são públicos, mas a verdade é que, em muitos casos, essas informações foram obtidas de maneira ilícita. A falta de transparência das plataformas sobre como os dados são utilizados e vendidos é um grande problema, uma vez que muitos não têm ideia de que estão sendo tratados como produtos.
A urgência de uma regulamentação
O crescente controle das redes sociais sobre nossas interações e informações exige uma análise crítica e regulamentação. As plataformas têm o interesse de manter os usuários envolvidos, priorizando conteúdos que engajam emocionalmente, o que pode distorcer a realidade e promover desinformação. O sociólogo Zeynep Tufekci e o professor Jonah Berger alertam para a perigosa trajetória que esse modelo impõe, levando usuários a consumir conteúdo cada vez mais extremo.
Alternativas e caminhos para o futuro
Iniciativas como o Bluesky e o Mastodon oferecem alternativas às atuais redes sociais, enfatizando uma dinâmica mais saudável, sem privilégios a conteúdos polêmicos e permitindo maior controle sobre os dados dos usuários. É crucial que a sociedade compreenda a fragilidade do ecossistema digital atual e busque maneiras de se desconectar das grandes plataformas, promovendo um espaço mais saudável para debates e interações. Marcelo Soares, professor de jornalismo de dados e digital, destaca a importância de um diálogo aberto sobre como desejamos nos comunicar e interagir online, defendendo uma abordagem que valorize a vida offline e as conexões humanas.