França e os riscos da redução da jornada de trabalho
Patrick Martin, presidente do Medef, expressa uma forte preocupação com a possibilidade de redução da jornada de trabalho no Brasil, em particular após a experiência negativa da França com as 35 horas semanais implantadas em 1997. Segundo ele, essa medida resultou em aumento de custos, desorganização em empresas e serviços e, consequentemente, prejudicou a competitividade e o mercado de trabalho francês.
Durante uma visita recente à França, o presidente Lula apresentou uma visão ambiciosa para catapultar o Brasil do décimo para o sexto lugar na economia mundial, contando com o apoio dos empresários franceses. Contudo, ao mesmo tempo, surgem rumores sobre a preparação de uma reforma na jornada de trabalho. Martin se posiciona contra essa proposta, alertando sobre os erros cometidos por seu país.
Consequências da redução da jornada de trabalho na França
Em 1997, a promessa das 35 horas semanais surgiu como uma solução para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, baseando-se na crença de que a produtividade aumentaria para justificar essa redução. No entanto, Martin defende que é o aumento da produtividade que deve preceder a diminuição da carga horária, não o contrário.
Ele lembra que a implementação dessa medida levou a um aumento de 10% no custo por hora trabalhada, uma vez que os empregadores pagavam por 35 horas enquanto o tempo legal anterior era de 39 horas. Como resultado, a produção também decaiu, obrigando o governo a intervir com ajuda financeira de aproximadamente € 10 bilhões anuais desde 2002, quantia que hoje ultrapassa os € 20 bilhões.
Impactos no mercado de trabalho
A extensão da jornada reduzida sem um corte proporcional nos salários causou distorções comerciais e uma queda acentuada na competitividade. Enquanto isso, a Alemanha optou por uma abordagem oposta, mantendo os custos salariais sob controle. A situação culminou em uma desindustrialização na França, que se viu incapaz de competir em um mercado dinâmico. Os trabalhadores passaram a enfrentar um aumento de pressão para serem mais produtivos em condições adversas, como turnos mais longos e tarefas acumuladas.
Consequências a longo prazo
Atualmente, a França apresenta uma das menores cargas horárias da Europa, ao mesmo tempo em que sofre com taxas elevadas de desemprego. O PIB per capita, que nos anos 80 era equiparado ao dos Estados Unidos, agora apresenta uma diferença de 45% a menos. Esses indicadores refletem a realidade enfrentada pelos trabalhadores, especialmente os mais vulneráveis.
Lições para o Brasil
Patrick Martin conclui que a redução da jornada, independentemente de como é apresentada, representa um risco econômico considerável. A experiência da França serve como um alerta: contar com ganhos de produtividade antes de realmente experienciá-los pode ter consequências desastrosas. Ele sugere que o Brasil não cometa os mesmos erros do passado, valorizando a estrutura empresarial e evitando a implementação de uma jornada encurtada, já que, após duas décadas, nenhum país europeu replicou o modelo francês.
*Patrick Martin é presidente do Medef.