Cenas dantescas em Gaza, com uma população civil em extrema fome, desafiam o apoio internacional a Israel, que enfrenta crescente pressão para agir. Neste cenário de crise, aliados históricos de Israel, como o Reino Unido e a França, reforçaram chamadas por uma distribuição de alimentos urgente e eficaz. O presidente francês, Emmanuel Macron, destacou a questão ao anunciar o reconhecimento do Estado palestino, uma medida que reflete um ponto de inflexão nas relações.
Após 21 meses de um intenso conflito, a situação humanitária na Faixa de Gaza atingiu níveis alarmantes. Recentemente, uma declaração conjunta de mais de duas dezenas de países, incluindo Japão e nações da União Europeia, condenou a “distribuição de ajuda em conta-gotas” e a “matança desumana de civis”. Os relatos são devastadores, e se a situação persistir, Israel pode perder o pouco apoio que ainda possui da comunidade internacional.
A violência começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel, resultando na morte de mais de 1.200 pessoas e no sequestro de mais de 250. A resposta militar de Israel, considerada legítima, rapidamente se instaurou, levando a operações em Gaza e confrontos com grupos como o Hezbollah no Líbano e os houthis no Iémen. No entanto, essas ações também desencadearam uma onda de manifestações antissemitas globalmente, incluindo em diversos países, que devem ser firmemente repudiadas.
Apesar da legitimidade da resposta israelense, as denúncias contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu são sérias. Há evidências de abusos na utilização da força e na retenção de remessas de alimentos para a população esfomeada de Gaza. Esse cenário é agravado pelo fato de que guerras, especialmente em regiões com grupos rebeldes, geralmente levam à fome. Contudo, sendo Israel uma democracia, é fundamental que haja um comprometimento com padrões humanitários mais elevados.
O governo Netanyahu alega que o Hamas utiliza os carregamentos de alimentos em benefício próprio, um argumento que pode ser válido, mas que não justifica a retenção dessas remessas. Segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU, cerca de um terço da população de Gaza passa dias sem comer devido aos “obstáculos burocráticos e operacionais” impostos por Israel, aumentando drasticamente os preços dos alimentos. Um saco de 25 quilos de farinha, por exemplo, teve um aumento alarmante de 7.800% desde setembro de 2023, evidenciando a gravidade da crise.
Recentemente, a permissão para o envio de pacotes de alimentos aéreos a partir de países como Jordânia e Emirados Árabes Unidos foi concedida, mas isso não resolve a crise. Em uma declaração coletiva, os líderes do Reino Unido, França e Alemanha enfatizaram que “a catástrofe humanitária que estamos testemunhando em Gaza deve acabar agora”, reiterando que as ações do governo Netanyahu não estão alinhadas com os valores democráticos e a tradição do povo judeu.