A Nova Guerra do Ópio: Uma Análise Crítica
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é comparado ao Império Britânico no contexto das guerras do ópio, caracterizando suas táticas comerciais como uma tentativa de impor tarifas e controlar a regulação das plataformas digitais em outros países. Esta comparação ilustra a ingerência dos EUA em assuntos soberanos, como, por exemplo, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, ressaltando a importância da soberania nacional e da cooperação internacional para combater práticas unilaterais.
Contexto Histórico e Implicações Modernas
Em meados do século XIX, a Grã-Bretanha lançou duas guerras contra a China após o imperador chinês banir o comércio do ópio, argumentando que isso violava a 'liberdade de comércio' e prejudicava os interesses britânicos. Após derrotas militares, a China foi forçada a abrir-se às rotas do narcotráfico, resultando em concessões territoriais que estavam fora do controle do governo chinês, estabelecendo o conceito de 'extraterritorialidade'. Este conceito tornou-se inaceitável no mundo após os processos de descolonização do século XX.
Uma Nova Era de Ingerência: As Tarifaços de Trump
Atualmente, Trump está em uma cruzada contra países que tentam regular as atividades das plataformas digitais, utilizando a mesma lógica imperialista de controle territorial. Ele ameaça impor sanções sobre nações que tentam coibir práticas criminosas online, alegando que tais regras prejudicam empresas americanas e infringem a liberdade de expressão. Esta postura reflete uma tentativa de estender a autoridade americana para além de suas fronteiras, similar ao que ocorreu durante as guerras do ópio.
A Interferência nos Assuntos Internos do Brasil
No caso específico do Brasil, Trump tem pressionado por um fim imediado ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro, considerada uma intervenção inaceitável nos assuntos internos de um país soberano. A demanda de Trump representa um risco à independência do Poder Judiciário brasileiro e à integridade da democracia, desafiando os fundamentos do Estado moderno que não aceita qualquer autoridade externa superior.
A Soberania e a Necessidade de Cooperação Internacional
A soberania é uma qualidade inalienável, essencial para o conceito moderno de Estado, como já discutido pelo teórico político Jean Bodin. A imposição unilateral da autoridade estadunidense, na visão do autor, deve ser contestada globalmente, promovendo a cooperação internacional baseada em princípios como o respeito à autodeterminação e à igualdade entre os Estados. Portanto, em um mundo em transformação, a política internacional deve buscar evitar as 'recaídas imperiais' e defesa mútua contra ingerências.
"O mundo do século XXI não comporta 'recaídas imperiais'." - Luis Fernandes
*Luis Fernandes é professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio e da UFRJ.