A diferença na gravidade entre a Terra e Marte pode ser uma das principais explicações para os problemas enfrentados pelos rovers da NASA ao se movimentarem em terrenos alienígenas. Um estudo recente conduziu por engenheiros da Universidade de Wisconsin–Madison revela que uma falha nos testes realizados na Terra pode ter impactos diretos no desempenho das missões marcianas.
O Spirit, um dos rovers da NASA, ficou preso na superfície arenosa de Marte durante uma manobra em 2019, quando tentava puxar uma roda dianteira inoperante. Após meses de tentativas para desenterrar o robô, ele não pôde ser resgatado. Agora, a equipe de engenheiros pode ter encontrado uma solução para melhorar a eficiência dos robôs da NASA em ambientes extraterrestres.
Em um artigo publicado no Journal of Field Robotics, os pesquisadores utilizaram simulações computacionais para apontar um aspecto negligenciado nos testes realizados na Terra. Ao contrário do que se pensava, os efeitos da gravidade não se limitam à influência no peso do rover, mas também impactam a gravidade sobre a areia, crucial para o entendimento das operações do robô.
A gravidade em Marte é bem mais fraca do que na Terra. Para contornar essa diferença, os engenheiros da NASA testam protótipos de rovers com um sexto da massa dos que são enviados ao planeta vermelho. No entanto, as simulações mostraram que a gravidade na Terra influencia a areia de forma mais significativa, tornando-a mais rígida e menos propensa a se mover sob as rodas do rover, enquanto a areia da Lua tende a ser mais fofa.
“É fundamental considerar não apenas a força gravitacional agindo sobre o rover, mas também como a gravidade afeta a areia para termos uma visão mais clara do desempenho do rover na Lua”, afirmou Dan Negrut, professor de engenharia mecânica na UW–Madison e autor principal do estudo.
A equipe de pesquisa descobriu a importância desse fator ao simular a missão do VIPER (Volatiles Investigating Polar Exploration Rover), que estava programada para ser lançada à Lua este ano, mas teve seu projeto cancelado. Durante as simulações, foram notadas discrepâncias entre os testes na Terra e as simulações físicas do robô na Lua.
Essas novas descobertas sugerem que os rovers em terrenos extraterrestres, como na Lua ou Marte, enfrentam maior risco de ficarem com as rodas presas em areias menos colaborativas. Este problema não se restringe ao Spirit; em 2005, o Opportunity passou semanas atolado em areia e, em 2014, o Curiosity encontrou dificuldades em um terreno mole. Compreendendo melhor o comportamento da areia sob a leve gravidade de outros planetas, a NASA poderá se preparar de forma mais eficaz para as condições desafiadoras que seus robôs encontrarão nas missões futuras.