A produção de falsos artigos científicos se transforma em uma ameaça crescente à integridade da ciência. A revista International Journal of Environmental Research and Public Health reporta que essas práticas tornaram-se praticamente uma indústria.
Conforme a narrativa de Jorge Luis Borges sobre Emma Zunz, em que a verdade se misturava a mentiras, é preciso destacar que a melhor mentira é aquela que se faz passar por verdade. Os seres humanos possuem uma tendência a mentir, e essa natureza se reflete não apenas nas interações sociais, mas também no campo da ciência.
A produção de artigos fraudulentos está em ascensão. Estudos demonstram que o número de artigos científicos falsos gerados por paper mills — editoras que oferecem serviços de criação de documentos em troca de pagamento — vem se duplicando a cada 18 meses. Essa situação atinge níveis alarmantes, com um crescimento que se assemelha a uma progressão exponencial.
Pesquisadores da Northwestern University identificaram que muitas organizações têm incentivado a criação de papers de baixa qualidade, que podem não ser completamente falsos, mas que não contribuem em nada para o conhecimento científico.
O cenário se agrava com a pressão sobre os cientistas para que publiquem, pois muitas instituições avaliam seus pesquisadores com base em uma lista de publicações. Essa busca infundada pela quantidade em detrimento da qualidade cria um ambiente propício para a proliferação de mediocridade na ciência.
Ademais, o fato de que muitos cientistas pagam para que seus trabalhos sejam publicados alimenta essa indústria. Isso resulta em um ciclo vicioso que afeta a credibilidade do conhecimento gerado. Casos de plágio, manipulação de imagens e o uso indevido de inteligência artificial vêm se tornando comuns nesse contexto. Especialmente, países como Rússia e Irã abrigam um número considerável dessas editoras enganadoras.
Portanto, é imperativo que haja um esforço coletivo e rigoroso para erradicar essas práticas, que ameaçam os fundamentos da ciência. Enquanto as redes sociais permitem a disseminação de informações duvidosas, a ciência não pode aceitar mentiras, mesmo que sejam apenas "falsas as circunstâncias, a hora e um ou dois nomes próprios".