Um estudo internacional envolvendo dezesseis cientistas de China, Estados Unidos, França e Reino Unido aponta que reflorestamento isolado não é suficiente para frear o aquecimento global. Publicado na revista Science, o trabalho reconhece o papel das árvores na captura de carbono, mas afirma que o efeito agregado é insuficiente para compensar as emissões atuais e futuras.
Nova análise internacional questiona a eficácia do reflorestamento como solução única
Os pesquisadores analisaram a disponibilidade de terras para reflorestamento e plantio de novas árvores, buscando estimar quanto carbono poderia ser removido da atmosfera até dois mil e cinquenta. Considerando trezentos e oitenta e nove milhões de hectares disponíveis para conservação e restauração, o total estimado ficaria significativamente aquém das projeções mais otimistas, sugerindo que a escala necessária para impactos significativos ainda não está ao alcance.
Para ter uma ideia do peso da análise, em dois mil e vinte e quatro foram emitidos quarenta e dois bilhões de toneladas de carbono. E as áreas já comprometidas com projetos de reflorestamento somam cento e vinte milhões de hectares.
Distribuição geográfica e limites práticos do reflorestamento
Dentre as áreas disponíveis, setenta e um por cento estão em países de renda média e baixa. As Américas respondem por quarenta e dois por cento do total, a Europa por vinte e seis por cento, e Brasil, Rússia e Estados Unidos abrigam juntos trinta e seis por cento desses espaços. Apenas o Brasil, em função da Amazônia, aparece com vinte por cento dos espaços disponíveis para captura de carbono por florestas, o maior entre os países analisados. Em termos de potencial, Europa e América do Sul contabilizam, respectivamente, doze vírgula oito por cento e dezesseis vírgula um por cento das áreas com potencial, bem abaixo da média global de cinquenta e nove por cento.
Os resultados reforçam que os projetos de reflorestamento e conservação ambiental não contribuirão para a captura de carbono na escala prevista por estimativas otimistas, não apenas por limitações quanto à disponibilidade de terras, mas também por barreiras intrínsecas ao sequestro por árvores individuais.
O papel das grandes petrolíferas e as expectativas de compensação
Empresas de petróleo têm investido consideravelmente em reflorestamento para compensar suas emissões. Pesquisadores britânicos levantaram as reservas de petróleo e gás das duzentas maiores empresas do setor, calcularam quanto carbono elas contêm e a área florestal necessária para compensá-lo. Concluíram, em estudo publicado na Nature, que seria preciso cobrir de árvores todo o território da América do Norte e da América Central para igualar tais emissões.
“O público pode entender esse tipo de compensação como uma espécie de mágica, mas simplesmente não é.”Nina Friggens, Universidade de Exeter
As pesquisas trazem uma medida da limitação do uso de florestas para mitigar o aquecimento global. Embora a conservação, o reflorestamento e outras tecnologias de sequestro devam seguir como ferramentas complementares, a redução das principais fontes de emissão continua sendo indispensável para frear o incremento do calor global.
Perspectivas futuras e implicações para políticas climáticas
O conjunto de evidências reforça a necessidade de políticas climáticas que equilibrem conservação, restauração florestal e redução drástica de emissões, sem depender apenas do sequestro via árvores. A pesquisa destaca que o caminho para metas climáticas exige ações coordenadas entre governos, setor privado e sociedade civil, com foco na redução de emissões e na gestão responsável do uso do solo, além de continuar o investimento em tecnologias de carbono.