Panorama imediato: Milei reconhece derrota e mantém foco nas reformas
O presidente argentino, Javier Milei, reconheceu neste domingo a clara derrota de seu partido nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, um importante termômetro para as eleições nacionais de outubro. Em La Plata, capital da província, ele afirmou: Hoje tivemos uma clara derrota, mas reiterou que não recuará na política de governo: Não recuaremos nem um milímetro na política de governo. O rumo não apenas está confirmado, como vamos aprofundá-lo e acelerar ainda mais. Segundo dados oficiais, o peronismo da coligação Força Pátria liderava com mais de 47% dos votos, frente a 33,8% da LLA, com 91% dos votos apurados.
Essa província concentra uma parcela expressiva da economia e do eleitorado nacional. A Buenos Aires responde por mais de 30% do PIB argentino e abriga 40% do eleitorado nacional. A eleição renova 23 cadeiras no Senado e 46 na Câmara dos Deputados da Legislatura provincial.
Milei, o povo te deu uma ordem. Você não pode governar para os de fora, para as corporações, para os que têm mais. Governe para o povo.
Em seu discurso de vitória, o governador da província, Axel Kicillof, do campo peronista, ressaltou a importância de não abandonar serviços públicos.
Não se pode acabar com o financiamento da saúde, da educação, da ciência e da cultura na Argentina.
Pouco antes da divulgação dos resultados preliminares, a ex-presidente Cristina Kirchner apareceu na sacada de sua residência em Buenos Aires e foi saudada por centenas de apoiadores. Em sua conta na rede social X, ela escreveu para Milei sair da bolha e pediu que pare de culpar os governos kirchneristas pela crise econômica.
As eleições, além de definir cadeiras, carregam simbolismo em meio às turbulências políticas e econômicas enfrentadas pelo governo. O pleito funciona como prelúdio das eleições legislativas nacionais de meio mandato, em outubro. A participação foi de 62,09% do eleitorado, e os resultados evidenciaram uma diferença entre o peronismo e a LLA que surpreendeu muitos analistas, com leituras que vão além do dia da votação.
No mês anterior, vazaram áudios sobre um suposto esquema de subornos na Agência Nacional de Deficiência, envolvendo diretamente Karina Milei — segundo a denúncia, ela receberia em torno de 3% do total de propinas pagas por empresas para vender medicamentos à rede pública. Neste domingo, muitos eleitores escreveram 3% em suas cédulas como forma de protesto. Para os governistas, a votação, aliada à queda na popularidade de Milei desde o escândalo envolvendo sua irmã, é um alerta para um governo que já enfrenta dificuldades no Parlamento. Já para a oposição, os números são vistos como presságio não apenas para outubro, mas também para a disputa presidencial de 2027.
Além disso, a eleição expõe as dificuldades da maioria governista no Legislativo, que enfrenta resistência para aprovar pautas. O resultado em Buenos Aires deixa claro que, embora Milei tenha mobilizado parte do eleitorado, o tabuleiro político continua fragmentado e desafiador para a agenda de reformas anunciada pelo governo.
Projeções para o futuro indicam que o resultado pode influenciar estratégias nacionais e regionais, reforçando a tensão entre apoio popular e pressões institucionais. Com o cenário político ainda em transformação, as leituras para outubro e para 2027 passam a considerar não apenas as urnas, mas também o desgaste e a capacidade de aglutinar apoio entre diferentes correntes do país.