Contexto e expectativa
Um casal norte-americano, com trabalho remoto há mais de uma década, sempre sonhou em viver na Europa. Cinco meses após o nascimento da filha, decidiu pela possibilidade de morar em Portugal, atraídos pela opção de visto de nômade digital e pela proximidade com diversos países europeus. A ideia era viver a vida europeia, entre vinhos locais, praias e a descoberta de novas cidades a cada fim de semana. O sonho era ambicioso, mas, como muitas aventuras de expatriados, envolvia riscos e desafios para uma família recente.
Os pais, que nasceram nos Estados Unidos, passaram a trabalhar de forma remota há alguns anos, vivendo em diferentes lugares como México e Coreia do Sul. Por décadas, alimentaram o desejo de, um dia, estabelecer-se na Europa. Cinco meses após o nascimento da filha, a família decidiu por Portugal, movida pela promessa de estilo de vida europeu ali, perto de outros destinos continentais.
Essa decisão parecia uma combinação perfeita entre independência profissional e a curiosidade de explorar uma nova cultura, com a esperança de dias ensolarados, caminhadas por ruas de paralelepípedos e a chance de uma rotina tranquila para a criança começar cedo a explorar o mundo.
Desafios práticos em Porto
Apesar de reconhecer a beleza indiscutível de Porto, a vida com um bebê na cidade revelou dificuldades que não estavam nos planos. A cidade tem um ritmo mais lento e uma calmaria que, a princípio, soava atraente, mas acabou parecendo mais adequada para aposentados do que para uma família com uma criança pequena. As longas temporadas de chuva impediram atividades ao ar livre por dias, limitando o acesso ao playground e às áreas abertas que costumam ser o coração da rotina infantil. A umidade também facilitou a formação de mofo nos apartamentos, acendendo preocupações sobre a saúde da bebê, que adoeceu várias vezes, o que aumentou a apreensão com moradias de aluguel.
Outra dificuldade foi o perfil turístico da cidade. Embora a paisagem e a arquitetura sejam encantadoras, a presença constante de turistas tornava as ruas mais agitadas e, para quem está no início da parentalidade, o dia a dia mais desafiador do que o esperado. A família apreciava o Dom Luís I Bridge como uma lembrança inesquecível, mas não sentia que aquele cenário fosse o suficiente para sustentar uma vida familiar estável.
Ademais, havia uma barreira de comunicação a cada etapa prática: mesmo com algum domínio do espanhol, os pais encontravam desafios ao conversar em português em ambientes formais, e o tempo dedicado à aprendizagem da língua com uma bebê nos braços era curto demais para progredir. A ideia de Lisboa foi considerada, porém as dificuldades para encontrar apartamentos e as longas listas de espera em creches em cidades próximas criaram obstáculos que pesavam sobre a decisão de permanecer.
Decisão de mudar e a pesquisa pela Colômbia
Com a ideia de que talvez o sonho europeu exigisse uma adaptação maior do que o imaginado, o casal resolveu reconsiderar o futuro longe de Portugal. Durante um período de afastamento, um casamento de uma amiga em Cartagena, Colômbia, aproximou a ideia de explorar outra realidade latino-americana. Pesquisaram ativamente o que a Colômbia poderia oferecer: clima de outono que favorece a vida de crianças pequenas, acesso facilitado a viagens graças a um dos maiores aeroportos internacionais da região, e uma vida urbana que parecia mais compatível com o estilo de vida que buscavam. Além disso, descobriram que Bogotá oferecia uma comunidade judaica significativa, o que os fez sentir-se mais acolhidos em uma cultura que já tinham curiosidade em explorar. Em julho de 2024, com o término do contrato de aluguel em Portugal, embarcaram em um voo de ida para Bogotá.
O que parecia apenas uma visita de curto prazo acabou se tornando uma mudança de fronteiras, motivada pela ideia de encontrar um lar que pudesse sustentar a vida da família com mais qualidade, oportunidades para a filha e espaço para o crescimento de uma nova vida em comum.
Chegada a Bogotá e as primeiras impressões
Bogotá impressiona pela dimensão: a cidade tem mais de oito milhões de habitantes, muito maior do que Porto, que abriga cerca de 1,3 milhão de pessoas. O clima de Bogotá é mais estável durante o ano, com dias de chuva que nem sempre quebram a rotina; em muitos dias é possível aproveitar o sol entre momentos de nuvens, o que facilita a vida ao ar livre com uma criança pequena. A cidade oferece uma oferta cultural ampla, com shows, museus e uma variedade de comidas de rua, como arepas e abacates frescos, que rapidamente se tornam parte do cotidiano da família.
Outro ponto positivo foi a facilidade de lidar com questões legais e de saúde, bem como a disponibilidade de escolas sem longas filas de espera, algo que fez falta em Porto. A combinação de infraestrutura, diversidade cultural e segurança, aliados à possibilidade de viagens rápidas para destinos próximos, consolidou Bogotá como uma opção muito mais próxima do que eles imaginavam.
Vida em Bogotá e a nova rotina
Ao longo do primeiro ano, a família viu mudanças não apenas no ambiente, mas na qualidade de vida. Mesmo com chuva, o clima em Bogotá é menos intrusivo para a rotina infantil, permitindo passeios e atividades ao ar livre com maior regularidade. A cidade, com sua escala maior, proporciona uma agenda cultural mais rica: apresentações de artistas que gostam, visitas a museus, e uma oferta gastronômica que inclui pratos simples e saborosos de rua. A vida diária ganhou colorido novo com mais opções de escolas, serviços de saúde e rede de apoio para pais jovens.
Além de estabilizar a vida cotidiana, a família encontrou uma nova rede social: um grupo diverso de pais jovens, incluindo colombianos e expatriados, que dividem dicas de vida, aprendizados e apoio mútuo. Embora não possam mais viajar de fim de semana com a mesma facilidade que tinham na Europa — por conta de compromissos e distâncias — ainda assim, as viagens próximas continuam típicas de quem mora na região, com visitas a lugares como Santa Marta e Lima, Peru, alimentando o espírito de descoberta que sempre os motivou a viver fora de casa.
Para a mãe, o cotidiano ganhou uma nova dimensão: a experiência de ver a filha crescer em um ambiente que oferece maior clareza de navegação nos sistemas jurídicos, de saúde e educação, contribuindo para a tranquilidade de criar os filhos em um lugar que parece encaixar-se melhor com o estilo de vida que almejam. Em meio a tudo isso, o casal já anuncia que espera um segundo bebê, o que reforça a percepção de que a Colômbia tem se mostrado o cenário mais adequado para suas aspirações familiares.
Perspectivas futuras e lições aprendidas
Embora Portugal tenha deixado memórias afetivas — uma cidade bonita e momentos especiais com a filha dando seus primeiros passos —, a mudança para a Colômbia revelou-se uma decisão que tem apoiado a felicidade da família. O que começou como uma tentativa de viver na Europa se transformou na descoberta de um lar que oferece o equilíbrio entre cultura, clima, rede de apoio e oportunidades para a educação de crianças. A experiência mostra que, às vezes, o caminho menos esperado acaba levando a resultados mais alinhados com os objetivos de uma vida familiar estável e feliz.