Duas semanas na Fazenda de Esmeraldas, uma província costeira cercada pela selva, ajudaram a escritora Sinead Mulhern a confirmar que viver e trabalhar no exterior era a decisão certa. Ela deixou Toronto há mais de sete anos em busca de uma vida mais lenta, mais acessível e criativa, e a experiência na fazenda reforçou essa convicção.
Da Toronto à Esmeraldas: a decisão de mudar
Esmeraldas carrega a reputação de ser uma região de desafios, mas Mulhern resolveu conhecer o lugar para ver por si mesma o que havia por trás das histórias. O relato aponta que a curiosidade e a necessidade de respiro foram motor da viagem, que começou como uma busca por reset e terminou como uma confirmação de que morar fora pode abrir caminhos surpreendentes para a criatividade e para a vida cotidiana. Uma conversa durante a estada, ao redor de uma cozinha que exalava cheiros familiares, reforçou a ideia de que o medo não precisa ser o guia da decisão de quem pensa em Latinidade e liberdade.
Vida na Fazenda: trabalho, cozinha e comunidade
Ao chegar, Mulhern observou a paisagem: folhas de banana balançando, cafeeiros descendo a encosta e galinhas ciscando perto de uma casa de madeira. A moradora local Carmen, hoje com cinquenta e nove anos, criou-se no entorno e, depois de passar décadas no exterior, retornou para realizar o sonho de administrar sua própria fazenda. Antes de voltar, ela abriu um negócio de limpeza na Austrália, mostrando que o planejamento de vida pode atravessar continentes para se materializar.
Durante a estada, Carmen mostrou que a fazenda é um espaço de todo terreno, onde o manejo do terreno, as tarefas diárias e a convivência com a natureza se entrelaçam. Enquanto dois amigos ajudavam a lidar com ervas daninhas, Carmen avançava pelo terreno com a machadinha, abrindo caminhos entre as plantas. Na cozinha, ela transformava a yucca em um pão rústico, recheado com queijo, pimenta, cebola e alho, uma receita que aprendeu com a avó e que ainda conserva o sabor de tempos passados. Ao provar o pão recém-saído do forno, Mulhern sentiu o gosto de uma vida cultivada com paciência e esforço.
“Sinead, você é todo terreno — uma pessoa todo terreno?”
Essa frase, repetida como uma bússola, ajudou Mulhern a perceber que a relação com o lugar não é apenas sobre localização, mas sobre o modo de estar no mundo com as mãos envolvidas na terra.
Ela descreve que tudo o que viu — da comida simples ao cenário das encostas, passando pela casa que Carmen ergueu — foi o resultado de anos de dedicação. Carmen desmatou a terra, ergueu a casa de madeira que serve de lar e começou a plantar mandioca, café, cacau e uma variedade de frutas. “Eu sempre soube que chegaria aqui um dia”, ela disse, enquanto desenrolava a casca de uma laranja em uma espiral perfeita. A fala traduz a convicção de quem transformou sonho em rotina prática.
O encontro com Carmen levou Mulhern a revisitar a própria relação com o lar e a criatividade. Ao observar o jeito de cuidar da terra, ela começou a questionar: qual seria a minha própria versão de uma casa suspensa entre árvores? Essas perguntas não tinham resposta pronta, mas abriram espaço para uma nova visão de futuro, menos pautada por pressões e mais alinhada com o ritmo do lugar.
Sonhos, casa e futuro na América Latina
Com a experiência, Mulhern decidiu manter-se na região, buscando capturar a magia de lugares como Esmeraldas em sua escrita e tratar a criatividade como Carmen trata a terra: com constância, paciência e presença diária. A conclusão da viagem foi menos sobre uma fuga e mais sobre uma reconstrução de prioridades; tratou-se de reconhecer que a vida pode seguir caminhos não lineares, desde que haja coragem para construir o que se deseja.
Duas semanas depois, Mulhern saiu da mata com uma clareza renovada sobre seu próprio caminho, percebendo que a página em branco não precisa ser tão intimidante quanto parecia à primeira vista. O relato sugere que, ao contrário do que o ritmo urbano costuma impor, é possível encontrar sentido em uma vida que combine liberdade, trabalho e autenticidade, especialmente quando se encontra um lugar que inspira a escrita a fluir.
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