Um médico foi preso nesta segunda-feira sob suspeita de homicídio culposo após a morte de Marilha Menezes Antunes, de 28 anos, ocorrida durante uma lipolipo com enxerto de glúteos realizada em uma clínica de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. A prisão integra uma sequência de diligências que também interditaram a clínica e afastaram o estabelecimento de atividades ligadas a procedimentos estéticos, após a identificação de irregularidades e de medicamentos vencidos encontrados no local. Segundo o laudo do Instituto Médico Legal, a morte ocorreu por perfuração no rim e hemorragia interna. O caso mantém o foco em denúncias de negligência e de falha na estrutura de um espaço que deveria funcionar como centro médico.
Resumo do caso e informações oficiais
O médico José Emílio de Brito foi detido em casa, no bairro da Tijuca. A autoridade policial informou que ele responderá pela morte de Marilha Menezes Antunes, durante o procedimento, que ocorreu em uma clínica localizada na região. Além da prisão, a clínica foi interditada pela polícia na mesma semana, após constatações de ausência de infraestrutura adequada para cirurgia e de medicamentos vencidos encontrados no local. O procedimento envolveu uma hidrolipo com enxerto de glúteos, técnica que, segundo a apuração, resultou na morte da paciente, o que motivou a ação policial e o afastamento de serviços do médico.
Marilha Menezes Antunes era técnica de segurança do trabalho em uma companhia aérea, conforme divulgação da família. A jovem, que vivia na cidade do Rio de Janeiro, faleceu repentinamente durante o atendimento médico. O laudo explica que a morte decorreu de uma perfuração renal associada a hemorragia interna. A família de Marilha, que tem buscado justiça, tem acompanhado de perto as investigações e a atuação da polícia, bem como o papel do médico na cadeia de atendimento.
Depoimentos de pacientes: sequelas físicas e psicológicas
Ao menos duas pacientes, ouvidas pela reportagem, relataram impactos físicos e psicológicos decorrentes das intervenções promovidas pelo cirurgião. Glaucia Priscila Alves Barbosa, dona de casa, afirmou conviver há mais de cinco anos com sequelas de uma hidrolipo realizada por Brito. Ela integra o grupo de 14 pessoas que entraram com ações na Justiça contra o médico. Em seus relatos, Glaucia descreveu o que está vivenciando:
"A marca horrível, que eu não posso colocar um biquíni. E sempre ela abre e sai pus. Os pontos inflamam. Até hoje, desde a época, eles inflamam até hoje."
A reportagem também ouviu uma segunda mulher, que pediu para não ser identificada. Ela fez uma hidrolipo há dois meses, na mesma clínica onde Marilha perdeu a vida, e descreveu o impacto de ter sido levada a acreditar que o erro seria dela:
"Eles te convencem que a errada é você. Em alguns momentos eu até acreditei mesmo que eu era a errada. A errada por ter acreditado, por ter sido iludida na boa fé. E isso me envergonhou muito. Meus pontos estão todos esgarçados. Minha barriga está completamente torta, toda cheia de fibrose. Tenho crises de dores, às vezes não consigo nem falar. É um sonho que é destruído... Me entreguei à mão de um açougueiro e estou aqui graças a Deus."
Condições da clínica e falhas de segurança
As declarações de pacientes reforçam a narrativa de que a clínica não possuía estrutura adequada para procedimentos cirúrgicos. Glaucia afirmou que não tinha conhecimento técnico para avaliar o ambiente em que foi operada, reconhecendo, hoje, que o local não contava com aparelhagem ou suporte de emergência. Em seus relatos, ela enfatizou que, na eventualidade de uma parada cardíaca, não haveria como realizar os primeiros socorros com os recursos disponíveis na casa de cirurgia.
A clínica foi interditada pela polícia na semana passada e, durante as diligências, foram encontrados medicamentos vencidos no local. A morte de Marilha, associada à perfuração renal e à hemorragia interna, permanece sob investigação, enquanto as autoridades tentam apurar se houve falha de conduta durante o atendimento.
Histórico do médico e implicações legais
Este caso se soma a um histórico de confrontos legais envolvendo o médico. Em 2018, Brito já havia sido condenado por homicídio culposo em relação à morte de outra paciente em 2008, em uma casa de saúde no Jardim América. A pena foi convertida em prestação de serviços e multa. A existência desse histórico de condenações é citada nos autos como elemento relevante para entender o contexto de atuação do médico e o tipo de supervisão que ele recebia.
Na segunda-feira, também foram ouvidos na Delegacia do Consumidor integrantes do Samu que atenderam Marilha e familiares da jovem. A irmã da vítima pediu justiça com veemência:
"Estamos clamando que o juiz responsável assine esse mandado de prisão, que ele seja preso, que ele perca esse CRM, que não faça mais vítima nenhuma, e que ele seja responsabilizado pela morte da Marilha Menezes Antunes. A minha irmã foi assassinada."
Perspectivas futuras e implicações para o setor estético
Este caso reacende o debate sobre a supervisão de serviços estéticos e a necessária fiscalização de clínicas que realizam procedimentos invasivos sem a estrutura adequada. As investigações continuam para esclarecer se houve falha em protocolos, bem como afastar eventuais responsabilidades administrativas ou criminais de outros envolvidos. A defesa das pacientes, representada pela busca de justiça, aponta para a necessidade de maior transparência e de padrões mais rígidos de segurança nos locais que oferecem esse tipo de procedimento.
As situações descritas pelas pacientes, bem como as decisões judiciais e administrativas que devem se manter em curso, reforçam o alerta para quem busca procedimentos estéticos: a importância de confirmar se o espaço tem condições técnicas, se os profissionais são credenciados e se há emergências disponíveis no local. Enquanto as investigações avançam, as vítimas concluíram que a violência em contextos de cirurgia estética pode deixar consequências duradouras, físicas e emocionais, que se estendem por anos, conforme os relatos ouvidos, e que o sofrimento não se encerra com a morte da paciente, mas se transforma em uma busca por reparação e justiça.