O governo alemão está se mobilizando rapidamente para aumentar a segurança aérea em resposta a uma série de incidentes envolvendo drones que ocorreram nas últimas semanas. Com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) acusando a Rússia de realizar ataques híbridos, o Kremlin nega qualquer envolvimento nas violações de espaço aéreo.
Recentemente, o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, expressou preocupações sobre a dificuldade de defesa contra drones, afirmando: "Estamos todos mancando quando o assunto é defender-se de drones". A sensação de insegurança se acentuou após vários países europeus relatarem a violação de seus espaços aéreos. No último dia três de outubro, novas aparições de drones levaram ao fechamento do aeroporto de Munique pela segunda noite seguida. Pistorius garantiu à emissora ZDF que o governo fará "tudo para sanar esse déficit na defesa". As ações são atribuídas à Rússia, embora o país aponte que não está por trás dos incidentes.
Desafios da Defesa Aérea
A Alemanha enfrenta desafios significativos em sua capacidade de defesa contra drones, destacando-se principalmente as limitações de equipamentos. A utilização de caças para derrubar drones, como fez a Polônia, embora possível, pode ser custosa e perigosa em áreas povoadas. A demanda por soluções mais eficazes é urgente, uma vez que os Forças Armadas alemãs adquiriram tanques antiaéreos Skyranger 3, que são capazes de combater enxames de drones, mas sua entrega só ocorrerá a partir de 2027. Além disso, o antecessor do Skyranger, o Gepard, foi encaminhado à Ucrânia, onde se mostrou útil para repelir ataques de drones russos.
Crescimento da Tecnologia de Drones
As Forças Armadas receberam recentemente drones interceptadores fabricados na Alemanha, que podem capturar dispositivos inimigos com redes. Ulrike Franke, do Centro Europeu para Relações Exteriores (ECFR), observa a necessidade de uma defesa mais robusta, destacando a importância de camadas de proteção com diferentes formas de neutralização de drones, desde contramedidas eletrônicas até soluções de tecnologia simples, como lançadores de redes.
Divisão de Responsabilidades na Defesa
A Alemanha também enfrenta a complexidade gerada pela divisão de responsabilidades entre as Forças Armadas e a polícia dos 16 estados federais. Enquanto os militares têm autonomia para defender o país de ataques externos, a responsabilidade pela segurança interna, como a defesa contra drones que espionam instalações civis, recai sobre a polícia. Contudo, mobilizar essas unidades rapidamente representa um desafio. A construção de um sistema de proteção abrangente contra drones é considerada irrealista pelos especialistas.
Planejamentos para o Futuro
A divisão de responsabilidades está prevista na Constituição alemã, mas diante das novas ameaças, mudanças podem ser necessárias. O plano do ministro do Interior, Alexander Dobrindt, inclui permitir que os militares ajudem a polícia em situações específicas, como no abatimento de drones. Além disso, o governo busca acelerar a aquisição de drones militares, com a expectativa de que as Forças Armadas possam utilizar esses dispositivos em ação até o final do ano. O governo também aprovou a compra de drones kamikaze, uma estratégia inédita para a Alemanha.
Aprendendo com a Ucrânia
A experiência da Ucrânia com drones, especialmente desde o início da guerra em fevereiro de 2022, demonstrou a eficácia desses dispositivos no campo de batalha. Os drones têm sido fundamentais para monitorar movimentos inimigos e causar danos a equipamentos militares mais caros. Franke sugere que a Alemanha deve aprender com a abordagem da Ucrânia em relação ao uso, fabricação e defesa contra drones: "Está absolutamente claro que os países da OTAN estão de olho na Ucrânia e precisam aprender com ela quando o assunto é o emprego rápido, a fabricação, a modificação e a defesa contra drones."
As Forças Armadas da Alemanha sentem a pressão para se adaptarem rapidamente a essa nova realidade. O uso de drones de ataque, antes considerado um tabu político, agora é visto como uma necessidade. Desde 2022, o governo já começou a armar seus militares com drones, incluindo a aquisição de mísseis guiados para o Heron TP, uma inovação significativa. Além disso, o governo planeja usar drones kamikaze, que estão classificados como munição em vez de aeronaves não tripuladas, simplificando seu uso e aquisição.
O avanço tecnológico nessa área é rápido, e os militares buscam evitar um acúmulo de drones em seus estoques. A abordagem tradicional das compras públicas, que envolve longos processos, pode ser contraproducente, levando a um compromisso com fornecedores para entrega de equipamentos atualizados em curto prazo. Nesse sentido, startups alemãs de inteligência artificial, como a Helsing, têm se destacado, fornecendo milhares de drones de combate para a Ucrânia.