Retratos de Invisíveis na Mídia
Os renomados jornalistas Gay Talese e Marceu Vieira se destacam por sua habilidade em retratar personagens invisíveis, figuras ignoradas pelo foco das hard news. Enquanto Talese, ícone do Jornalismo Literário, lança seu novo livro "Bartleby e Eu", Vieira, natural de Morro Agudo, é lembrado após seu falecimento. Ambos compartilham a preferência por contar a história de "ninguéns", oferecendo uma perspectiva humanizada e respeitosa, longe do sensacionalismo.
A Química Entre Talese e Vieira
Embora provenientes de realidades distintas — Talese de Manhattan, em Nova York, e Vieira de Morro Agudo, em Nova Iguaçu —, ambos se dedicaram a resgatar as histórias dos desprezados pela sociedade e pela mídia. Esses repórteres buscam a essência das vidas cotidianas, focando em pequenos personagens que frequentemente são desconsiderados nas manchetes. Eles não se atraem por tragédias sensacionalistas que usualmente dominam as primeiras páginas dos jornais.
A Proximidade em Propósitos
Embora a semana passada tenha trazido suas histórias em contextos diferentes — a publicação do livro de Talese e a morte de Vieira —, a essência do trabalho de ambos reside em valorizar as pessoas invisíveis, aquelas que os canais de notícias apressados costumam negligenciar. O autor Gay Talese, com 93 anos, sempre se mostrou mais interessado em personagens cotidianos do que em figurinhas ilustres e conta isso em seu novo trabalho. Por sua vez, Marceu Vieira, que faleceu aos 63 anos, preferiria escrever sobre figuras como o dono do Bil-Bip, um bar que frequenta e que se tornou um marco na cultura carioca.
Sutileza em suas Narrativas
Os dois jornalistas se afastam do exagero e da promoção sensacionalista. Não são repórteres que entram na redação fazendo alarde. O seu talento radica em transformar pessoas comuns em figuras extraordinárias por meio da escrita, adotando uma abordagem de sutileza e profundidade em suas narrativas. Talese, inclusive, é conhecido por relatar, em suas reportagens, o cotidiano das ruas de Nova York através do olhar dos anônimos. "A maioria das pessoas que come pipoca no Yankee Stadium para de mastigar antes do arremesso", reflete o estilo observador e sutil que caracteriza o trabalho de Talese.
O Alinhamento Entre os Dois
Da mesma forma, Marceu Vieira focou em retratar sua Morro Agudo natal, apresentando personagens como o pai de santo Nilo de Iroko e o charmoso “maluquinho” Montinho. Vieira fez relatos simples, mas carregados de significado. Para ambos, a essência do jornalismo se perdeu em meio ao foco excessivo em celebridades e na chamada 'cultura da fama', que dominam as redes sociais.
Um Olhar Sobre o Futuro do Jornalismo
Este foco justificado em "ninguéns" é urgente, especialmente em tempos em que o jornalismo enfrenta o desafio das redes sociais, que aparentemente preferem celebrar figuras efêmeras que não contribuem de fato para a narrativa histórica. A jornalista Lúcia Guimarães, no posfácio de "Bartleby e Eu", menciona que Talese não se perderia em se preocupar com esse tipo de personagem. Marceu Vieira seguia a mesma linha, à procura de valor na humanidade das histórias que muitos ignoram.