CEP para Favelas: Um Passo Rumo à Inclusão
O governo federal anunciou uma iniciativa transformadora: todas as favelas e comunidades urbanas do Brasil terão, ao menos, um Código de Endereçamento Postal (CEP). Essa medida, que beneficiará aproximadamente 16,3 milhões de brasileiros, é uma ação do Ministério das Cidades em parceria com os Correios e busca promover a inclusão social e cidadania, facilitando o acesso a serviços fundamentais.
Reparação Histórica e Inclusão Social
A falta de endereçamento nas favelas impede o acesso a serviços essenciais, como saúde e educação. A introdução de CEPs é vista como uma forma de reparação histórica para comunidades marginalizadas, contribuindo para a dignidade humana e a cidadania. O reconhecimento dos endereços é um passo crucial para a inclusão dessas populações no mapa da cidade.
O Papel da Cartografia na Inclusão
Nos anos 2010, o movimento pela organização cartográfica das favelas começou a ganhar força através das iniciativas das Redes da Maré e do Observatório de Favelas. Essas organizações trabalharam em conjunto com o Instituto Pereira Passos para delimitar e mapear as comunidades do Complexo da Maré, que, desde 1994, não apareciam adequadamente nos registros oficiais. O Guia de Ruas da Maré de 2012 revelou que aproximadamente 25% das 900 ruas do local não tinham CEP, evidenciando uma desigualdade que dificultava a vida dos moradores.
A Nova Iniciativa do Governo Federal
A mais recente ação do governo irá garantir que 12.348 territórios, identificados pelo IBGE no Censo Demográfico de 2022, sejam formalmente reconhecidos com um CEP. Essas áreas, que abrigam quase 10% da população brasileira, sofreram com a histórica invisibilidade dos serviços públicos e direitos básicos. Sabe-se que sete em cada dez habitantes dessas comunidades são pretos ou pardos, evidenciando a intersecção entre raça e desigualdade social.
A Repercussão Entre a Comunidade
O anúncio foi recebido com entusiasmo por líderes comunitários e pesquisadores. Segundo Jailson de Souza e Silva, geógrafo e diretor-geral do Instituto Comum Viver, "o não reconhecimento de endereços prejudica profundamente o cotidiano de milhões de pessoas, dificultando o acesso a bens e serviços em uma economia cada vez mais digital". Ele destacou ainda que garantir CEPs é uma forma de efetivar direitos de cidadania.
Desafios e Perspectivas Futuras
No entanto, a falta de endereços nos territórios não é apenas uma questão técnica; envolve também uma complexa relação com a segurança e a presença de facções. A diretora das Redes da Maré apontou que a ausência de políticas públicas voltadas à identificação dos endereços sempre esteve presente, independentemente da criminalidade. A realidade mostra que cerca de 280 mil endereços nas favelas ainda carecem de registro, o que afeta 870 mil brasileiros que vivem sem um endereço formal.
Estima-se que, no Sudeste, quase 48,7% das favelas estão localizadas, sendo São Paulo e Rio de Janeiro as cidades com o maior número de comunidades. No Rio, a Rocinha, considerara a maior favela do Brasil, possui mais de 72 mil moradores, segundo dados do IBGE. O reconhecimento dos CEPs nas comunidades é, portanto, uma medida não apenas reivindicada, mas essencial no contexto atual de desigualdade.
A inclusão dos CEPs a cada logradouro representa um passo significativo na luta pela justiça social e pela visibilidade das comunidades que historicamente foram negligenciadas. Esse avanço é parte de um quebra-cabeça maior em busca de garantir direitos fundamentais a todos os cidadãos brasileiros.