O Medo Diário de Não Voltar para Casa
Em meio a um cenário preocupante, trabalhadores da construção civil expressam seu medo constante de acidentes fatais. O setor, que emprega 7% da força laboral, é responsável por 14% das infrações identificadas pela Inspeção do Trabalho. O relato de Juan Moya ilustra como é a rotina desses operários: "Quando me levanto respiro e dou as graças porque há dias que temo não voltar para casa. Tenho visto tantas mortes que até me acostumei".
Um Cenário de Alarmes e Estatísticas Alarmantes
Os números não mentem: em apenas sete meses de 2025, 103 vidas foram perdidas no setor da construção, 21 a mais que no ano anterior, representando um aumento de 26%. Esse crescimento chocante coloca a construção em uma posição alarmante, com o maior número de mortes entre todas as atividades laborais. Em um dos incidentes mais recentes, um colega de Moya caiu de 20 metros de altura durante trabalhos de regulagem de tráfego.
Casos de Acidentes e a Realidade dos Trabalhadores
Cada trabalhador conhece histórias de tragédias. Moya teve um acidente em que sofreu o impacto de plásticos de um carro, enquanto o boliviano Wilson Laura relata uma queda de quatro metros devido ao desabamento de um telhado. "Tive sorte de cair em um colchão", conta. Para muitos, como Gabriel, um jovem paraguaio, o dia a dia é repleto de riscos, onde a falta de equipamentos de segurança se torna comum.
Persistência em Condições Adversas
Os desafios são ainda maiores para trabalhadores migrantes e sem documentação, que muitas vezes enfrentam condições desfavoráveis e falta de proteção. Um trabalhador valenciano, com 15 anos de experiência, revela: "Os que não têm papéis têm que aguentar muitas coisas e não podem denunciar o empresário." As condições de trabalho inadequadas se refletem em problemas graves de saúde, como a perda de audição devido à exposição prolongada a ruídos altos.
A Desigualdade de Gênero e a Má Condição de Trabalho
Além das questões de segurança, a construção civil é marcada pela desigualdade de gênero. A presença feminina é mínima, com apenas 2% de mulheres entre os operários. No entanto, entre os profissionais de maior qualificação, como engenheiros, a proporção de mulheres é maior, mas a disparidade ainda é evidente. O setor também conta com uma alta porcentagem de trabalhadores estrangeiros, especialmente em funções menos qualificadas, indicando uma necessidade urgente de mudanças e igualdade de oportunidades.
Urgência em Melhorar a Segurança no Trabalho
O panorama é sombrio, mas o aumento da sinistralidade pode ser uma consequência da falta de cultura de segurança. Segundo especialistas, as empresas têm relaxado as medidas de prevenção devido à recuperação do setor, priorizando a agilidade ao invés da segurança. A Federação das Indústrias, no entanto, garante que a melhoria da segurança e da saúde no trabalho é uma das prioridades, exigindo um cumprimento rigoroso das normas de segurança.
Resultados das Inspeções e o Impacto das Infrações
De acordo com os dados da Inspeção do Trabalho, quase 30% das intervenções no setor resultaram em notificações por problemas a serem corrigidos. O setor se destaca por ter 14% de todas as infrações aplicadas, refletindo uma realidade preocupante. Essas infrações geraram multas que totalizam 85,4 milhões de euros, destacando a necessidade urgente de um controle mais eficaz.
Apressa e Aumenta o Perigo
A pressão para trabalhar rapidamente expõe os trabalhadores a riscos ainda maiores. Segundo o trabalhador Eladio Atienzar, "Vamos a toda pastilha; você vê que as pessoas nem usam o arnês". Esse aumento da velocidade no ritmo de trabalho, muitas vezes atrelado ao sistema de pagamento por produção, compromete a segurança. Vicente Moreno, funcionário de uma cantera, aponta que as pequenas empresas são as mais vulneráveis, sem a necessária fiscalização.
Envelhecimento da Força de Trabalho e Seus Riscos
A escassez de mão de obra agrava a situação, levando a um aumento do número de trabalhadores mais velhos no setor. Um estudo do BBVA mostra que 55% dos trabalhadores têm mais de 45 anos, indicando que a falta de renovação gera perigos para a segurança. A necessidade de um olhar crítico sobre a segurança e a saúde dos trabalhadores é urgentemente requerida.
Reflexão sobre um Setor Perigoso
Compreender o cenário da construção civil é essencial para abordar as questões de segurança e saúde dos trabalhadores. A natureza arriscada da atividade requer uma mudança na mentalidade e prioridade das empresas, além de um suporte para garantir um ambiente laboral que respeite a vida e a integridade de todos que atuam nesse setor.