Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que conquistou o Nobel da Paz aos 15 anos, traz à tona um lado mais íntimo e humano em seu novo livro, "No Meu Caminho", que chega às livrarias nesta terça-feira. A obra representa uma mudança significativa em relação ao tom mais institucional de seus discursos anteriores, fornecendo uma visão sincera e pessoal de suas experiências.
Desde a solidão enfrentada na universidade até os traumas decorrentes de um ataque terrorista, Malala revela sua luta para equilibrar a vida de uma ativista global e os desejos normais de uma jovem. "Sempre que eu me via numa sala de aula com meninas da minha idade, não me sentia presente", admite ela, refletindo sobre sua transição de adolescente solitária para universitária impulsiva.
O livro faz um relato atraente sobre suas inseguranças e vivências, incluindo sua experiência traumática com o uso de maconha, que desencadeou memórias vívidas do ataque que sofreu em 2012, quando foi baleada por defender o direito das meninas à educação. "Achei que experimentar maconha seria algo engraçado para contar depois, mas foi horrível. O trauma ficou no meu corpo", revela Malala, evidenciando a conexão entre saúde mental e experiências passadas.
Em entrevista ao GLOBO, ela discutiu a pressão de ser vista como infalível e o desejo de ser uma jovem comum. Revelou também sua experiência com a terapia, que se tornou essencial para sua recuperação emocional e entendimento sobre como pedir ajuda. "Sou grata a minhas amigas que me incentivaram a procurar ajuda", comenta Malala.
A ativista ainda aborda reiteradamente a questão de sua aparência, afetada pelo ataque e as cirurgias que se seguiram. "Recebia muitos comentários maldosos de haters, mas decidi focar no meu ativismo. Aparência não deveria ser o mais importante". Essa aceitar-se como é, tanto em termos de estética quanto em emoções, foi vital para sua jornada pessoal e afetiva. Seu atual marido, Asser Malik, é mencionado com carinho: "Ele se interessa mais pela pessoa que eu sou hoje do que pela pessoa do passado".
Em um mundo onde cada passo de uma figura pública é monitorado, Malala questiona a politicização de sua vida pessoal. "Quando você é um ícone global, até o namoro se torna político". Ela discute a experiência de tomar decisões sobre casamento em sua cultura, que muitas vezes não permite que um casal viva junto sem a formalização do matrimônio. Para Malala, a escolha do casamento deve ser da mulher, sem pressões externas.
Ao final, "No Meu Caminho" não é apenas uma autobiografia, mas um testemunho da força e vulnerabilidade humana. Trata-se da busca de Malala por um sentido de pertencimento e felicidade após uma vida marcada por desafios incomuns e expectativas elevadas. O livro está disponível nas livrarias, prometendo inspirar e ressoar com jovens ao redor do mundo que também enfrentam suas próprias batalhas.