Em meio a um cessar-fogo frágil, os Estados Unidos e nações do Oriente Médio estão delineando um amplo plano para a reconstrução de Gaza, que se assemelha ao que foi feito após a Segunda Guerra Mundial. Este processo, que promete levar anos e necessitar de colaborações internas, enfrenta desafios significativos tanto econômicos quanto políticos.
De acordo com Jared Kushner, emissário do governo americano para a região, a reconstrução deve começar pelos territórios controlados por Israel, excluindo as áreas dominadas pelo Hamas. Durante uma coletiva de imprensa, ele afirmou que não haverá destinação de verbas para as regiões onde o Hamas permanece ativo, defendendo uma "nova Gaza" que ofereça aos civis oportunidades de emprego e segurança.
A situação em Gaza é alarmante, com quase 70 mil vidas perdidas devido aos dois anos de guerra e uma destruição sem precedentes. A ONU estima que 92% das estruturas em locais como a Cidade de Gaza foram severamente afetados, resultando em 61 milhões de toneladas de entulhos. Nabil Bonduki, professor da USP, comparou a devastação ao que ocorreu na Alemanha após os bombardeios da Segunda Guerra, destacando a complexidade do trabalho de remoção dos escombros, que será crucial para qualquer plano de reconstrução.
O custo da reconstrução foi estimado em 67 bilhões de dólares, e uma série de países, incluindo Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, demonstraram interesse em participar do processo. Profissionais de Relações Internacionais, como Roberto Uebel, comentam que a reconstrução de Gaza ganha contornos de um projeto de poder, onde os países envolvidos esperam obter retornos significativos em termos políticos e econômicos.
Com o Catar na vanguarda, seu primeiro-ministro, Mohammad bin Abdulrahman al-Thani, afirmou estar pronto para liderar os esforços. As próximas etapas incluem a entrega de equipamentos necessários para a remoção dos escombros, mesmo frente às críticas que questionam a participação de um país que abriga líderes do Hamas. Para muitos, o envolvimento do Catar na reconstrução também sugere uma relação mais complexa entre as potências da região e os Estados Unidos.
Enquanto o processo de reconstrução avança, o papel do Hamas permanece central e polêmico. Os Emirados e a Arábia Saudita insistem no desarmamento do grupo militante, complicando ainda mais a dinâmica no pós-conflito. As tensões internas entre os diversos atores, somadas à instabilidade contínua e às recentes declarações de autoridades israelenses, provocam incertezas sobre a implementação do plano de recuperação.
Os desafios não se limitam ao aspecto físico da reconstrução; questões estruturais e políticas, conforme destacado por Bonduki, emergem como os maiores empecilhos a serem superados. Assim, o futuro de Gaza dependerá não apenas da recuperação material, mas da resolução dos conflitos que perpetuam sua instabilidade.