Analisando o contexto político dos anos 70, o sequestro e a execução de Aldo Moro, presidente da Democracia Cristã, mudaram profundamente a política italiana. O evento se tornou emblemático de um período de intensa violência e terrorismo conhecido como os Anos de Chumbo.
No dia 16 de março de 1978, Moro foi capturado pelas Brigadas Vermelhas em Roma, após sua saída de casa em direção ao Parlamento. O líder político foi levado para o que os terroristas chamavam de ‘prisão do povo’, onde permaneceu por 55 dias sob cativeiro. Durante este tempo, ele enviou cartas com apelos a líderes do seu partido e do governo, mas seus pedidos foram ignorados. A tragédia culminou na descoberta de seu corpo, crivado de balas, em 9 de maio de 1978, dentro de um Renault abandonado, simbolizando o colapso do compromisso político que ele tentava preservar entre a Democracia Cristã e o Partido Comunista Italiano.
O livro 'O Caso Moro', escrito por Leonardo Sciascia, um renomado autor e político italiano, detalha os eventos do sequestro, bem como o clima político da época. A obra foi recentemente publicada no Brasil pelo selo da editora Mundarú. Sciascia, que era deputado do Partido Radical, escreveu um relatório sobre o caso que foi incluído como apêndice no livro, oferecendo uma perspectiva crítica à inação dos líderes políticos enquanto Moro estava em cativeiro.
O compromisso político, conhecido como Compromisso Histórico, foi uma tentativa de estabilizar o governo italiano ao incluir o PCI na coalizão. Contudo, as Brigadas Vermelhas viam essa aliança como inaceitável e agiram para interrompê-la, sequestrando Moro pouco antes de um voto de confiança que selaria esse acordo.
A reação do governo, sob a liderança de Giulio Andreotti e da cúpula da Democracia Cristã, optou pela linha dura, recusando-se a negociar com os sequestradores. Sciascia defendeu que Moro estava mentalmente sadio durante todo o cativeiro, desafiando a ideia de que ele teria sido submetido a lavagem cerebral. O autor sugeriu que Moro deixava pistas em suas cartas, como a menção à sua saúde, talvez para indicar sua localização e a urgência da negociação por sua libertação.
A morte de Moro teve um impacto profundo no cenário político italiano, com o fortalecimento dos partidos de direita e reconfiguração das alianças políticas. O assassinato do líder foi visto como o fim do compromisso histórico e uma virada significativa na luta política na Itália, moldando o futuro do país por muitos anos.
A obra de Sciascia além de reviver um momento trágico da história italiana, provoca uma reflexão sobre o papel da política e seus representantes em tempos de crise.