O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mirando as eleições de 2026 com uma estratégia focada em mudanças fiscais e mobilização social, buscando estabelecer uma conexão com a indignação dos eleitores. Em um panorama de confronto ao status quo, o mandatário pretende adotar medidas como a redução da jornada de trabalho e a taxação de grandes fortunas, além de ampliar a polarização política em sua narrativa.
Entre as táticas planejadas, Lula mobiliza movimentos sociais, visando reforçar sua imagem para além de ser conhecido como "pai dos pobres". A expressão "cafezinho servido no Palácio do Planalto" tem sido usada como metáfora para ilustrar a estratégia do presidente. Integrantes do governo afirmam que não adianta oferecer um expresso com pouco adoçante a quem prefere açúcar, sugerindo que agradar totalmente aos extremos é impossível.
A abordagem de Lula mostra uma transformação em sua figura política, se aproximando mais do político combativo de 1989, que desafiou as elites. O discurso conciliatório da posse em 2023 e a promessa de união entre partidos de centro cederam espaço à retórica antissistema, que busca se aproveitar do crescimento de sua popularidade e da fragmentação das lideranças de direita.
O presidente também deve adotar uma postura mais incisiva, aumentando os ataques ao establishment e buscando angariar apoio da classe média. Medidas que agridem o bolso, como a redução da jornada de trabalho e a tributação sobre grandes fortunas, fazem parte de sua estratégia. A narrativa será sustentada pela ideia de que qualquer fracasso em implementar essas pautas se deve à oposição.
A polarização política será apimentada, com Lula e seu governo empreendendo uma guerra digital contra seus opositores. O marqueteiro Sidônio Palmeira e o deputado Guilherme Boulos, novo ministro da Secretaria-Geral, estão entre os principais aliados nessa empreitada, que visa mobilizar as bases do presidente em torno das reformas propostas.
Além da retórica, Lula busca implementar um conjunto de medidas para reconquistar a classe média, um segmento que se distanciou da gestão durante a recessão e o escândalo do petrolão. Novas propostas incluem isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e um novo modelo de crédito imobiliário, tudo pensado para ampliar sua imagem. Um auxílio palaciano reafirma que as eleições de 2026 podem ser vencidas ainda em 2025, com o uso da máquina pública a favor da reeleição do presidente.
Essas ações se distanciam do Lula candidato de 2022, que criticava a utilização da máquina pública para campanhas eleitorais. Numa época de sua crítica ao então-presidente Jair Bolsonaro, destacou que saía para fazer campanha apenas após as 18 horas, evidenciando uma mudança de postura em suas táticas eleitorais.
Thiago Bronzatto é diretor da sucursal do GLOBO em Brasília.