A recente megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, deixou um rastro de dor e indignação, resultando em 121 mortes. Familiares e amigos das vítimas se concentraram em frente ao Instituto Médico-Legal (IML) e na Praça São Lucas, onde os corpos foram expostos, gerando clamor por justiça e sentimentos de revolta.
Imagens impressionantes mostram a cena alarmante de corpos enfileirados em frente a uma creche na Praça São Lucas, intensificando a tragédia vivida pela comunidade local. Entre os presentes, uma mulher reconheceu seu genro entre os mortos e passou mal, necessitando de assistência. A cena se repetiu com o avô de um dos jovens mortos, que contou sobre a trajetória do neto, um menino de 17 anos que se apaixonou pela música e pelo futebol, mas acabou sendo mais uma vítima da violência.
O avô, emocionado, desabafou: "Você perde o filho duas vezes: uma quando ele já não consegue mais te escutar e entra para o crime, e depois quando morre". Essa frase ecoa em meio aos lamentos dos que perderam seus entes queridos, como a mãe que se questionou: "Como pode destruir tantas famílias, tantas vidas?" Uma mulher, que não é parente de vítimas, também se fez presente no local, ressaltando que nunca havia presenciado algo semelhante em 37 anos de vida na Penha.
O estado da maioria dos corpos gerou uma onda de indignação. "Tem morto com sinal de tortura. Três sem cabeça, outros com facadas, sem dedos", disse a mulher, exclamando que isso não é aceitável em uma sociedade justa. A situação no IML e nas praças era de total desespero e aflição, com muitos buscando reconhecer os corpos para o sepultamento.
A história de Beatriz Nolasco, que teve seu sobrinho Yago, de 19 anos, entre as vítimas, ilustra a gravidade do massacre. Ela descreveu o corpo do rapaz como encontrado na mata, decapitado, expressão máxima da violência que tomou conta do cenário. "Meu sobrinho não tinha um tiro no corpo. Arrancaram a cabeça dele e deixaram na mata. Isso foi uma chacina!", desabafou Beatriz em meio à documentação para a liberação do corpo.
Outro relato impactante vem de uma moradora de Arraial do Cabo, que afirmou ter visto o corpo de seu ex-marido estirado na praça. Com ferimentos visíveis, seu relato aponta para as realidades difíceis que muitos enfrentam. O clima de tensão e a incerteza sobre a liberação dos corpos adicionaram sofrimento à tragédia que já havia se instaurado nas vidas dessas famílias.
O contexto de todas essas narrativas se insere em um debate mais amplo sobre a abordagem policial em situações de violência. A operação, a mais letal da história do estado, teve suas táticas questionadas, especialmente em relação ao uso de força letal e a eficácia das ações policiais. Moradores da área, além de lamentar perdas irreparáveis, clamam por uma revisão nas práticas das autoridades e pedem justiça para aqueles que perderam a vida nas mãos do sistema.