O advogado-geral da União, Jorge Messias, enfrenta um cenário desafiador em sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), com forte resistência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Para garantir sua aprovação, ele precisará conquistar votos de senadores da oposição e de aliados do Centrão próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora tenha contabilizado sete votos já confirmados, a indecisão de muitos senadores do MDB e do PSD complica a articulação necessária para sua aprovação.
Messias foi indicado na última quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preenchendo a vaga deixada pela aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso. A escolha, no entanto, não agradou ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que preferia o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a posição. Desde a oficialização da candidatura, todos os 27 senadores titulares da CCJ foram contactados, e até agora, três já manifestaram apoio a Messias, enquanto outros três se mostraram contrários. A situação é ainda mais complicada devido ao número significativo de senadores que se declaram indecisos.
Entre os indecisos estão dois senadores do MDB, Eduardo Braga (AM) e Veneziano Vital do Rêgo (PB), que são considerados essenciais para o governo. Outros parlamentares estratégicos, como Renan Calheiros (MDB-AL) e Otto Alencar (PSD-BA), também se abstiveram de se manifestar publicamente em apoio a Messias. Frases de alerta sobre o atual cenário político surgem entre os senadores, sendo que muitos deles já optaram por não discutir a indicação, criando um clima de incerteza.
Segundo Braga, a recente votação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que foi reconduzido ao cargo com uma margem apertada, reforça as preocupações do governo sobre a capacidade de mobilização da base. Os senadores dividem a estrutura de votos na CCJ em blocos, com uma ala de PT, PSB e PDT somando cinco integrantes que já apoiam a indicação. Messias já tem a necessidade de expandir seus apoios, contando com prováveis votos favoráveis de Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Eliziane Gama (PSD-MA).
Eliziane reforçou a imagem de Messias, enfatizando que ele é um jurista de formação sólida e que sua indicação representa um importante gesto do presidente em relação ao segmento evangélico. O outro bloco, que inclui MDB e PSD, possui nove senadores e, embora tenha alinhamentos com o governo, não é completamente solidário. Isso significa que Messias terá que buscar apoio na oposição para alcançar os 14 votos que precisa para assegurar a maioria na CCJ.
A atual atmosfera no MDB é descrita como delicada. Muitos senadores expressaram descontentamento em relação à falta de diálogo durante a indicação. Em sabatinas anteriores, era comum que senadores do MDB declarassem apoio a candidatos em estágios iniciais do processo, mas isso não ocorreu desta vez. A fragilidade na articulação pode representar um desafio considerável para Messias e sua equipe, que acreditam ter tempo para conquistar novos apoiadores.
Em um panorama mais distante do Planalto, um grupo que inclui o Novo, PL, União Brasil, PP, Republicanos, Podemos e PSDB soma 13 cadeiras, e vários senadores desse bloco já se pronunciaram contra Messias. A resistência inclui nomes conhecidos como Magno Malta (PL-ES) e Márcio Bittar (PL-AC), além de outros que perto de Bolsonaro não se manifestaram ainda. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) expressou a opinião de que o STF não necessita de mais ideologia, mas de uma maior independência e menos ativismo. O líder Rogério Marinho (PL-RN) criticou a atuação de Messias no passado, o que pode complicar ainda mais a situação para o advogado-geral da União.
Apesar das incertezas, Messias conta com o suporte do ministro do STF André Mendonça, que elogiou sua indicação e se comprometeu a ajudar nas conversas com os parlamentares. A indicação de Messias entrará na CCJ em um contexto já complicado pela dinâmica política do Planalto, que não consultou Davi Alcolumbre antes de escolher Messias. O clima tenso é palpável, e muitos senadores consideram que a mesma articulação usada para a votação de Gonet não será replicada com a mesma energia para a aprovação de Messias. A votação secreta, por sua vez, adiciona um elemento de imprevisibilidade ao processo, podendo levar a defecções inesperadas. A rejeição na CCJ não significa o fim da luta de Messias, pois a indicação pode ser levada ao plenário, onde o resultado final será decidido.