Censo revela desafios enfrentados por moradores de favelas
O Censo 2022 do IBGE apontou que cerca de 3,1 milhões de pessoas residem em favelas onde o acesso a serviços essenciais é severamente limitado. Esses dados revelam que 19,2% da população desses locais vive em áreas inacessíveis para veículos maiores, como ambulâncias e caminhões de lixo. Em comparação, apenas 1,4% da população fora das favelas enfrenta essa restrição, evidenciando a disparidade nas condições de vida no Brasil.
A pesquisa mostrou que os moradores de favelas têm acesso a suas residências, em sua maioria, somente por meio de motocicletas, bicicletas ou a pé. Esse cenário afeta a qualidade de vida e o acesso a serviços básicos, colocando em evidência a necessidade de melhorias na infraestrutura urbana das comunidades.
Desigualdade no atendimento aos serviços públicos
O IBGE também destacou que, em grandes centros urbanos como o Rio de Janeiro, o Amapá e Alagoas, a distância entre os residentes que possuem acesso a vias adequadas e aqueles que vivem em áreas com restrição de tráfego supera 40%. Por exemplo, no Amapá, essa diferença chega a 54,6%, mostrando a urgência de intervenções governamentais.
"Isso significa dificuldade de acesso a certos serviços públicos, porque não passa um caminhão de lixo ou uma ambulância", afirmou Cláudio Stenner, geógrafo do IBGE.
Os dados revelam ainda que em comunidades como a favela da Mangueira, apenas 10% da população reside em áreas que permitem a passagem de ônibus e caminhões, o que demonstra a gravidade da situação em algumas localidades.
Infraestrutura urbana deficitária
As informações coletadas pelo instituto também abordam outras características urbanísticas, como a arborização e a existência de calçadas. Em 2022, 64% dos moradores de favelas habitavam em trechos sem árvores, enquanto 46,1% não tinham calçadas ou passeios ao redor de suas casas. Esses percentuais são significativamente maiores do que os registrados fora das favelas, onde apenas 31% e 10,1% dos moradores enfrentam essas dificuldades, respectivamente.
Ademais, apenas 3,8% dos residentes de favelas estão em locais com calçadas livres de obstáculos. Em contraste, fora dessas áreas, o número sobe para 22,4%, evidenciando a precariedade do espaço urbano destinado a pedestres nas comunidades carentes.
Serviços e transporte público nas favelas
O levantamento revelou que apenas 5,2% dos moradores de favelas têm acesso a pontos de ônibus ou de van. Esse número é mais do que o dobro em comparação à população fora das favelas. A Cidade Olímpica, em São Luís, no Maranhão, destaca-se como a favela com a maior quantidade de moradores em locais que podem receber caminhões e ônibus, com 98,7% de sua população nessa condição.
Por outro lado, apenas 7,3 milhões de moradores de favelas têm acesso a bueiros ou bocas de lobo, equivalente a apenas 45,4% do total. Fora das favelas, esse índice é de 61,8%, indicando uma carência crítica em infraestrutura de drenagem em comunidades vulneráveis, que pode agravar problemas de alagamento.
População nas favelas e perspectivas futuras
O levantamento do IBGE foi feito em 12.268 favelas e comunidades urbanas, abrangendo 6,4 milhões de domicílios, o que equivale a 16,1 milhões de habitantes. O total de moradoras de favelas no Brasil gira em torno de 16,3 milhões, ou aproximadamente 8,1% da população nacional.
Essas informações ressaltam a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de infraestrutura nas comunidades urbanas, visando garantir o acesso a serviços essenciais e o bem-estar dos moradores de favelas em todo o país.