O recente desmoronamento de parte do teto da Igreja da Ordem Primeira de São Francisco, popularmente conhecida como 'igreja de ouro', trouxe à tona o fascínio e a importância dessas construções históricas, que possuem interiores revestidos de ouro e refletem a riqueza cultural e religiosa do Brasil.
Fundada em 1723, a Igreja de São Francisco situada em Salvador é notável por seu interior totalmente coberto de ouro, apresentando talhas barrocas impressionantes e afrescos vibrantes. Este local não é apenas um ícone cultural e histórico, mas também é um destino turístico popular. Infelizmente, durante o acidente, várias pessoas estavam visitando a igreja, resultando em um falecimento.
O Brasil abriga uma variedade de igrejas históricas adornadas de ouro, especialmente nas cidades de forte influência colonial. Este ouro, que remonta ao ciclo do ouro nos séculos XVII e XVIII, foi utilizado para embelezar altares, capelas e imagens sagradas, transformando essas igrejas em verdadeiros símbolos do barroco e rococó brasileiro, amalgamando fé e arte de maneira singular.
O uso do ouro é notável em diversos elementos arquitetônicos dessas igrejas. Ele se manifesta em talhas de madeira, altares ornamentados, púlpitos esculpidos, esculturas sacras, molduras, cúpulas e até em detalhes de pinturas e azulejos.
Cidades como Ouro Preto, Mariana, Congonhas e São João del-Rei, todas em Minas Gerais, reúnem igrejas com ricos detalhes em ouro. Salvador, na Bahia, também abriga templos históricos que utilizam essa riqueza em suas ornamentações douradas.
Outras localidades com igrejas de interiores luxuosos incluem Recife, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro. A seguir, algumas das igrejas mais emblemáticas que ilustram essa riqueza além da mencionada igreja soteropolitana.
- Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto (1766) – Projetada por Aleijadinho, apresenta altar e teto decorados com detalhes dourados e valiosas imagens sacras.
- Basílica de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto (1733) – Uma das igrejas mais ricas do Brasil, possui cerca de 400 quilos de ouro e prata em sua decoração.
- Igreja de São Francisco de Assis, São João del-Rei (1774) – Conhecida por sua talha rococó dourada, possui um interior elegante e um majestoso altar-mor em ouro.
- Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas (1773) – Famoso por suas esculturas dos profetas de Aleijadinho e uma capela adornada ricamente com ouro.
- Catedral Basílica de Salvador (1672) – Apresenta altares barrocos dourados e uma capela-mor luxuosa, sendo um dos templos mais significativos da Bahia.
- Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Recife (1767) – Destaca-se pelos seus painéis dourados e um altar-mor de talha barroca exuberante.
- Igreja de Santo Alexandre, Belém (1719) – Antiga catedral com altar ricamente decorado em ouro e impressionantes detalhes artísticos coloniais.
- Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro (1671) – Um dos interiores mais luxuosos do Brasil, destaca-se pela madeira entalhada e revestida em ouro.
- Mosteiro de São Bento, São Paulo (1650) – Seu altar-mor contém uma belíssima talha dourada e abriga um importante órgão de tubos histórico.
Essas igrejas são de suma importância cultural, representando o apogeu da arte barroca no Brasil. Elas figuram como patrimônio nacional, preservando tradições religiosas e estéticas. Sua arquitetura ornamentada reflete a influência europeia e o esplendor da colonização.
Essas construções históricas também simbolizam o período de ouro no Brasil e o papel da Igreja Católica durante a colonização, atuando como centros de poder que moldaram a sociedade da época. Muitas delas estão associadas a figuras importantes da história do país.
No aspecto turístico, essas igrejas atraem visitantes do Brasil e do mundo todo. Suas obras de arte, pinturas, esculturas e talhas douradas são um encanto para estudiosos e curiosos. Estas igrejas frequentemente fazem parte de renomados circuitos culturais e religiosos.
Vale mencionar que, apesar de serem alvos de ladrões, o ouro presente nessas igrejas históricas do Brasil, na prática, não tem valor monetário, pois integra o patrimônio cultural e religioso. Não pode ser retirado ou vendido, dada sua incorporação a altares, talhas e esculturas que têm valor artístico e histórico inestimável.
A remoção desse ouro resultaria na destruição das obras e na descaracterização da arquitetura barroca. Além disso, essas igrejas são protegidas por legislações de preservação do patrimônio, como as do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), tornando qualquer tentativa de comercializar esse ouro um crime contra o patrimônio histórico.
Outro aspecto relevante é que o ouro frequentemente está associado a vernizes, tintas e outros materiais, o que torna inviável sua extração sem causar danos irreparáveis. Portanto, o valor verdadeiro desse ouro se encontra em seu papel histórico, artístico e cultural para o Brasil.