A juíza do Supremo dos EUA, Ketanji Brown Jackson, fez críticas contundentes aos ataques direcionados por Donald Trump ao Judiciário, durante uma conferência judicial realizada em San Juan, Porto Rico, no dia 2 de maio de 2025. A primeira mulher negra a ocupar um cargo na corte suprema alertou que esses ataques representam uma ameaça à democracia e ao Estado de Direito, configurando um verdadeiro padrão de intimidação contra magistrados que tomam decisões consideradas desfavoráveis ao ex-presidente.
Em seu discurso na Conferência do Primeiro Circuito Judicial, Jackson afirmou que as críticas não devem ser vistas como atos isolados, mas sim como uma estratégia bem orquestrada para deslegitimar o sistema de justiça. Embora ela tenha se esforçado para evitar citar Trump diretamente, sua menção ao "elefante na sala" deixou claro que se referia às repetidas tentativas do ex-presidente e de seus aliados em desacreditar juízes e suas decisões.
Jackson destacou que as ameaças que pairam sobre o Judiciário não se limitam a indivíduos, mas são, na verdade, ataques sistemáticos que comprometem a integridade da democracia e do sistema de governo dos EUA. Essas declarações vieram em um momento em que o chefe de Justiça, John Roberts, já havia se manifestado para rebater os pedidos de impeachment de juízes federais, uma prática que Trump vem defendendo.
A magistrada também elencou um padrão recorrente nas críticas, que incluem: foco em decisões específicas, como o bloqueio de deportações pelo juiz James Boasberg; retórica inflamada, referindo-se a juízes como "lunáticos de esquerda"; e ameaças implícitas à independência do Judiciário. Essas táticas, segundo Jackson, não só comprometem o trabalho dos operadores de justiça, mas também abalam a confiança da sociedade no sistema legal.
Durante a conferência, Jackson recebeu uma calorosa ovação de pé ao convocar seus colegas a manterem uma postura de "coragem bruta" diante das pressões políticas, desafiando a norma tradicional de um discurso judicial mais autocontido. Esse gesto demonstra a preocupação crescente entre os magistrados sobre a escalada de ataques que se intensificam a cada ciclo eleitoral.
Especialistas em Direito Consultados pela Axios ressaltaram que intervenções públicas de juízes do Supremo em relação a figuras políticas são extremamente raras no último século. O que estamos vendo agora reflete as tensões que aumentam entre os Poderes do governo, exacerbadas pelo uso de narrativas antidemocráticas durante campanhas eleitorais. Entre os dados relevantes, destacam-se 5 casos de ameaças a juízes federais registrados até abril de 2025 e um aumento de 40% no discurso contra o Judiciário nas primárias republicanas.
A intervenção da juíza Ketanji Brown Jackson reafirma o papel do Supremo Tribunal como um bastião institucional contra discursos autoritários. Seu apelo à resistência judicial sinaliza a preparação para eventuais crises constitucionais que podem surgir após as eleições de 2024.