O barco-hospital São João XXIII, idealizado a partir de um pedido do papa Francisco, realizou uma expedição transformadora em Novo Remanso, um distrito de Itacoatiara, no Amazonas. A embarcação, que leva não apenas serviços de saúde, mas também escuta e humanidade, proporcionou mais de 10 mil atendimentos entre consultas, procedimentos odontológicos, exames e cirurgias durante sua missão, superando um total de 10.628 atendimentos.
A missão ocorreu entre 17 e 25 de abril deste ano, com uma equipe composta por 21 voluntários de diversas partes do país e 55 funcionários, incluindo enfermeiros e operadores da embarcação. Os voluntários relatam que a experiência é transformadora, dando novos significados ao ato de cuidar. O médico radiologista Flávio Caldas, que participou pela quarta vez da expedição, ressaltou a emoção que sente ao ouvir a gratidão dos pacientes: "Cada vez que um paciente me agradece, sinto uma chuva de bênçãos", afirmou.
Durante a expedição, os voluntários não apenas conseguiram realizar atendimentos médicos; eles se reconectaram com o propósito de sua missão. O médico clínico geral Arlei Sebastião Xavier, que esteve na missão pela primeira vez, compartilhou sua reflexão: "Aqui, aprendemos muito mais do que poderíamos ajudar. Agradecer é o aprendizado que levo comigo. Somos muito privilegiados por estar aqui".
A cirurgiã-dentista Júlia Miranda Mota também compartilhou sua experiência transformadora, afirmando que o tempo gasto com os pacientes trouxe satisfação e felicidade. "Aqui, nós nos deixamos tocar, algo que esquecemos na correria do dia a dia", comentou ela. O trabalho dos dentistas não se resumiu apenas a restaurações, mas trouxe de volta a autoestima a jovens como Josafá Lima, de 17 anos, que expressou sua gratidão ao receber tratamento dental: "Muito obrigado, trouxe minha felicidade de volta".
A missão do barco-hospital não se limita a questões de saúde física, mas também toca o emocional. Pacientes como Ana Lúcia, que enfrentava um possível câncer ocular, encontraram esperança e humanidade ao serem atendidos. "Se Deus colocou essa pessoa na minha vida, é porque ele tem uma missão", disse Ana, referindo-se ao cirurgião que a ajudou.
Embora a expedição tenha terminado, o impacto permanece. Frei Alberto, o coordenador das atividades, destacou que o barco representa um divisor de águas para muitos, oferecendo acesso à saúde e a oportunidade de um cuidado humanizado. "O Amazonas não é mais o mesmo sem o barco-hospital, e vice-versa. Estamos aqui a serviço da vida", enfatizou.
Atualmente, além do São João XXIII, outros dois barcos-hospitais, o João Paulo II e o Papa Francisco, realizam expedições simultâneas, atendendo diversas comunidades ribeirinhas no norte do Brasil. As expedições, que ocorrem duas vezes por mês, seguem levando cuidados médicos a regiões carentes de acesso à saúde. O próximo destino é Urucurituba (AM), onde mais histórias de esperança e transformação estão por vir.