Piracicaba (SP) foi reconhecida como a cidade do Estado de São Paulo com o maior número de acidentes envolvendo animais peçonhentos, totalizando impressionantes 1.834 registros em 2024. As ocorrências têm como foco principal os escorpiões, afetando especialmente pessoas na faixa etária entre 20 e 39 anos. Esses dados foram divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) durante o lançamento de um painel de monitoramento recente.
No cenário estadual, Piracicaba ocupa a primeira posição, seguida por Ribeirão Preto com 1.579 casos e Campinas, com 1.326. Nos últimos dez anos, a cidade já ultrapassou a marca de 2 mil notificações em quatro ocasiões, sendo uma delas apenas no ano passado, enquanto 2024 já contabiliza 615 acidentes. A maioria das vítimas é relacionada a picadas de escorpiões.
Desde 2007, Piracicaba registrou um total de 26,9 mil notificações, das quais 17,2 mil foram resultantes de picadas de escorpião, representando 64% do total de acidentes. As autoridades de saúde local também destacam a importância de saber como agir em caso de uma picada e onde buscar atendimento adequado.
A cidade de Piracicaba é considerada naturalmente endêmica devido à sua geografia e condições climáticas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Os escorpiões têm encontrado na rede de esgoto um ambiente propício, onde podem se reproduzir e prosperar, dado o acesso a alimentos e a proteção contra predadores. A bióloga Regina Lex Engel, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), explica que as estruturas de esgoto permitem que esses animais acessem residências através de ralos.
As análises da Secretaria de Estado da Saúde indicam que o aumento da urbanização e as alterações climáticas têm contribuído para o crescimento do número de acidentes. O perfil demográfico das vítimas mostra que a maior parte dos registros envolve homens, especialmente jovens adultos.
Entre os 26,9 mil casos de picadas desde 2007, ocorreram nove mortes. Uma delas foi a de Jamily Vitória Duarte, de 5 anos, que faleceu em agosto de 2023 após ser picada por um escorpião. Sua família alega que houve falhas no atendimento médico, e o caso agora está sendo investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público. De acordo com a Prefeitura, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) tinha soro antiescorpiônico disponível, mas a desidratação da criança complicou sua aplicação.
Após o falecimento de Jamily, a Prefeitura declarou que a decisão da equipe médica foi de encaminhá-la para a UTI da Santa Casa, considerando a estrutura de atendimento. A administração da UPA também iniciou uma apuração interna após tomar conhecimento da gravidade do caso.
Essa série de acidentes e a recente tragédia ressaltam a urgência de um abordagem mais efetiva para prevenir picadas e oferecer um atendimento de urgência adequado às vítimas. O monitoramento contínuo e as estratégias de conscientização são fundamentais para mitigar esse fenômeno preocupante em Piracicaba.