A Aliança Democrática (AD), coalizão de centro-direita liderada pelo primeiro-ministro Luiz Montenegro, venceu as eleições gerais em Portugal realizadas no último domingo, 18, mas não conseguiu assegurar a maioria no Parlamento. Com esse resultado, Montenegro permanece à frente do governo pela segunda vez em um ano, o que reflete a persistência da instabilidade política no país, visto que essa foi a terceira eleição geral em três anos.
A AD obteve entre 29% e 34% dos votos, superando o Partido Socialista (PS), que ficou com 21% a 26%, e o partido de extrema direita Chega, que angariou entre 20% a 24%. O crescimento do Chega, especialmente em suas propostas voltadas à imigração e à corrupção, acirra ainda mais o clima político em Portugal, criando incertezas sobre o futuro. O partido ainda pode terminar em uma posição elevada, dada a proximidade nas porcentagens de votos com o PS.
Sem conseguir a maioria absoluta, a AD terá que escolher entre tentar formar alianças com partidos menores, o que muitos analistas consideram improvável, ou conduzir um governo minoritário, situação semelhante à anterior. Essa configuração de governo deixa a AD vulnerável a uma possível união dos partidos de oposição para derrubá-la, processo que já ocorreu há dois meses.
A fragmentação política em Portugal tem gerado um ambiente desafiador para a discussão de temas urgentes como imigração, moradia e custo de vida. Com um cenário de crescente descontentamento entre os cidadãos, a disputa política se torna cada vez mais complicada.
Crescimento da Extrema Direita
Pesquisas de boca de urna indicam que o Chega, partido de extrema direita, se posiciona em terceiro lugar nesta eleição, com previsão de ganhar entre 20% a 24% dos votos. De acordo com o jornal português Publico, canais de televisão estão projetando um empate técnico entre Chega e PS. Fundado há seis anos, o Chega ganhou notoriedade ao capturar a insatisfação com os partidos tradicionais, levando a uma rápida ascensão na política nacional.
O partido, que se define como nacionalista sob o lema 'Salve Portugal', é liderado pelo advogado André Ventura, uma figura influente que se destacou como comentarista esportivo. Nos últimos cinquenta anos, a alternância de poder entre sociais-democratas e socialistas viu o PS provavelmente enfrentando seu pior resultado desde 1987, ao conquistar apenas 55 cadeiras.
Como Funciona o Sistema Eleitoral em Portugal
O sistema de governo em Portugal difere do brasileiro, adotando um modelo semipresidencialista, que envolve um presidente e um primeiro-ministro. Neste contexto, os eleitores votam em partidos, não em candidatos individuais. O partido com o maior número de votos deve alcançar um mínimo de cadeiras para obter controle legislativo. Na eleição realizada em 2024, a AD conquistou 79 dos 230 assentos, não obtendo, portanto, a maioria absoluta.
O cenário atual é reflexo de eventos recentes, como a renúncia de António Costa, em novembro, após investigações que o envolveram. Montenegro, que foi eleito pela primeira vez em março de 2024, também enfrentou uma derrota significativa no Parlamento quanto à sua moção de confiança, que pretendia afirmar que seu governo tinha apoio suficiente para sobreviver.
Análise dos Principais Partidos
• Aliança Democrática (AD): Agrupando o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social Partido Popular (CDS-PP), a AD sob a liderança de Montenegro promete manter políticas direcionadas à redução de impostos e controlo da imigração. No entanto, a AD enfrenta ceticismo em relação a sua capacidade de formar alianças e estabilidade suficiente para governar.
• Partido Socialista (PS): Tradicionalmente um dos dois principais partidos em Portugal, o PS liderado por Pedro Nuno Santos provou sua continuidade no governo, mas enfrenta agora desafios significativos, incluindo a responsabilidade pela queda do governo de Montenegro.
• Chega: Com uma retórica forte contra a corrupção e a imigração, o Chega tornou-se uma força proeminente com uma base de apoio em crescimento. A figura de Ventura à frente do partido propaga um discurso que apela ao sentimento popular e se opõe aos partidos tradicionais, influenciando a atual dinâmica política.
O desfecho das negociações pós-eleitorais e as ações dos partidos parlamentares nas próximas semanas serão cruciais para determinar se Portugal poderá superar a instabilidade política e enfrentar os desafios sociais que emergem com urgência.