Maria de Fátima, afetada pela cirurgia de catarata, busca justiça após lesões graves na visão. Reprodução: EPTV
O Ministério Público de São Paulo solicitou à Justiça uma indenização de R$ 3 milhões após 13 pacientes idosos terem ficado cegos durante um mutirão de cirurgias de catarata realizado em Taquaritinga, interior do estado. Além do governo paulista, a ação também é dirigida à Fundação Santa Casa de Franca, que administrava o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) onde as operações ocorreram.
As lesões irreversíveis na visão dos pacientes foram provocadas pelo uso inadequado de uma substância durante o procedimento cirúrgico. A sindicância interna realizada pela Fundação revelou que, em vez de aplicar um soro de hidratação ao concluir a cirurgia, a equipe médica utilizou uma solução destinada à assepsia, a clorexidina, que não deve entrar em contato com os olhos. Essa confusão levou à síndrome tóxica do segmento anterior (TASS), resultando em grave inflamação ocular.
De acordo com o promotor Ilo Wilson Marinho Gonçalves, o pedido de indenização visa restaurar a confiança da população nas instituições de saúde. "O Estado precisa se conscientizar de que erros dessa natureza não podem se repetir. É extremamente lamentável o que aconteceu, e vamos trabalhar para que o Estado ajude a resgatar essa credibilidade que ele perdeu", afirmou Gonçalves.
A cirurgia realizada em 21 de outubro de 2024 causou desconfortos imediatos nos pacientes, que relataram dor intensa após o procedimento e se sentiram negligenciados pela equipe médica, que minimizou as queixas. Gonçalves explicou que, se a Justiça determinar o pagamento, os valores serão investidos em melhorias na prestação de serviços de saúde na região.
Durante as investigações, o Ministério Público identificou uma série de irregularidades na condução das cirurgias, incluindo erros na troca de medicamentos e a falta de cumprimento de protocolos críticos de esterilização. Além disso, a equipe médica foi orientada a não esclarecer as queixas dos pacientes, resultando em uma quebra de confiança que afeta a relação da população com o Estado.
Atualmente, as cirurgias no AME de Taquaritinga estão suspensas, e o MP requer que essa suspensão permaneça até que as irregularidades identificadas sejam corrigidas. As condições precárias da estrutura do AME foram destacadas, como a utilização de cadeiras de cirurgião inadequadas para o ambiente de operação.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que todos os envolvidos nos atendimentos foram afastados e que os pacientes estão sendo acompanhados por uma equipe especializada do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Uma investigação policial está em andamento para apurar as responsabilidades e medidas corretivas estão sendo adotadas.