A Justiça de São Paulo decidiu suspender todas as cirurgias no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Taquaritinga, após um grave incidente em que 13 pacientes perderam a visão durante um mutirão de catarata realizado em outubro do ano passado. A determinação, que é válida por tempo indeterminado, atende a um pedido do Ministério Público, que identificou falhas alarmantes na operação do local.
O AME se viu envolvido em uma ação civil onde o MP reivindica uma indenização de R$ 3 milhões, além de outras medidas compensatórias. Essa ação foi movida devido a diversas irregularidades encontradas no atendimento, que incluem a utilização inadequada de substâncias durante as cirurgias, resultando em uma condição conhecida como TASS (Síndrome Tóxica do Segmento Anterior), que causa inflamação e perda de acuidade visual significativa nos pacientes.
A nova determinação da Justiça seguiu uma suspensão administrativa que estava em vigor desde fevereiro deste ano. Em adição à proibição de procedimentos cirúrgicos, o Centro de Material e Esterilização do AME também foi interditado. As penalidades serão mantidas até que a Fundação Santa Casa de Franca, responsável pela administração do ambulatório, resolva as irregularidades apontadas por auditorias.
"O Estado precisa se conscientizar de que erros dessa natureza não podem se repetir", afirmou o promotor de Justiça Ilo Wilson Marinho Gonçalves, que lidera a ação. Segundo ele, assim que o valor da indenização for determinado pela Justiça, ele será revertido para melhorar o serviço de saúde na região de Ribeirão Preto.
Um relatório elaborado pela própria Fundação Santa Casa revelou que, ao invés de usar uma solução de hidratação apropriada durante as cirurgias, foi utilizada uma substância, a clorexidina, que serve para assepsia, mas que não deveria entrar em contato com os olhos. Isso resultou em danos severos para os pacientes, incluindo a necessidade de transplantes de córnea e acompanhamento oftalmológico a longo prazo.
Pacientes afetados relataram negligência no atendimento pós-cirúrgico, sentindo dor e desconforto imediato após os procedimentos. O apoio médico necessário para lidar com os efeitos das cirurgias falhas está sendo realizado pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde os pacientes estão sendo acompanhados.
Além da proibição de cirurgias, o Ministério Público detalhou uma série de irregularidades na Central de Material de Esterilização e no centro cirúrgico. As inspeções revelaram a presença de pessoal sem qualificação adequada, problemas na esterilização de materiais, e falhas na comunicação e notificação dos procedimentos realizados.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que todos os profissionais envolvidos nos atendimentos foram afastados e novas sindicâncias estão sendo realizadas. A situação evidência a quebra da confiança entre a população e o serviço público de saúde, conforme destacado pelo promotor. Os próximos passos dependerão da correção das irregularidades e da melhoria na condução das cirurgias no AME.
Este caso chama atenção para a importância de uma auditoria rigorosa e do cumprimento dos protocolos de saúde para garantir a segurança dos pacientes. A sociedade e as instituições precisam trabalhar em conjunto para restaurar a credibilidade nas instituições de saúde pública.