Na última segunda-feira (19), o Ministério Público Federal (MPF) de Alagoas recebeu a apresentação do Inventário Participativo do Patrimônio Cultural Imaterial (IPCI Maceió). O projeto, elaborado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) através da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes), contou com a participação de representantes da Braskem e da Prefeitura de Maceió, instituições que colaboram no acordo socioambiental relacionado ao projeto.
O IPCI Maceió é um marco importante para a preservação da memória cultural dos bairros de Bebedouro, Bom Parto, Farol, Mutange e Pinheiro, regiões impactadas pelo afundamento do solo devido à atividade mineradora de sal-gema da Braskem. Essa tragédia ambiental resultou na desocupação forçada dessas áreas e na dispersão de suas comunidades, levando a uma significativa perda cultural.
Utilizando uma metodologia participativa, o projeto envolveu diretamente a comunidade afetada, mapeando mais de 300 fazedores de cultura e documentando práticas culturais tradicionais. Além disso, foram identificados mais de 470 locais de referência cultural, resultando no mais completo banco de dados sobre o patrimônio imaterial da região até o momento.
A procuradora da República Juliana Câmara destacou a importância dos dados coletados, chamando-os de um acervo sem precedentes em Alagoas. "Verificamos que há uma falta de políticas públicas voltadas para a preservação da memória cultural em Maceió. Este banco de dados apresenta uma oportunidade única de fortalecer as práticas culturais e integrá-las ao turismo", afirmou.
No encontro, também foram apresentadas proposições iniciais para salvaguarda cultural, buscando garantir a continuidade dos saberes e práticas mesmo após a desterritorialização. Entre as sugestões destacaram-se a criação de um Centro de Referência e Memória e o fortalecimento de políticas públicas de cultura e educação, bem como financiamento para grupos culturais afetados.
As procuradoras da República reforçaram que muitas dessas propostas já estão sendo analisadas em outras frentes e enfatizaram a necessidade de integrar esses esforços para um melhor aproveitamento das medidas de salvaguarda. O acervo do IPCI Maceió será disponibilizado ao público por meio da plataforma digital do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), mantida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), garantindo que o material cultural possa ser acessado por todos.
A procuradora Julia Cadete ressaltou que a integração do IPCI Maceió ao INRC importante para a preservação cultural, permitindo que os saberes e práticas continuem vivos e acessíveis às futuras gerações e pesquisadores. O projeto reflete o compromisso da Braskem, em colaboração com o MPF, de produzir conhecimento respeitando a comunidade afetada e utilizando recursos da própria empresa para mitigar os danos causados.
O IPCI Maceió, ao reunir e tornar dados acessíveis, não só contribui para a salvaguarda da cultura popular alagoana, mas também para a construção de uma memória coletiva marcada pela resistência e dignidade, essencial em tempos de recuperação e justiça social.